02 dezembro 2009

Muse: pomo de discórdia


Este post inclui os vídeos "The Captain" dos Biffy Clyro e "Mk Ultra" dos Muse.

(Fotos de Manuel Lino, in Diário IOL, aqui).

As reacçoes da imprensa à passagem de Muse por Portugal, no âmbito da digressão de The Resistance, têm repetido o padrão das críticas ao álbum, lançado em Setembro último, e demonstram como, em última análise, os Muse fogem ao convencional e tendem a ser apreciados e melhor compreendidos por um público (e por críticos!) de gostos musicais diversificados e abertos à miscigenação de estilos e influências. E o facto dos Muse conseguirem sistematicamente esgotar a capacidade das salas de espectáculos por onde passam só prova que esse público é apreciável, o que não deixa de ser bastante animador.


A título exemplificativo, cite-se a inqualificável (ou talvez "excrementícia") crítica do Disco Digital / Diário Digital, em que o autor (Davide Pinheiro) descreve The Resistance como um álbum "excrementício" (lê-se de tudo na 'imprensa' por estes dias...), a música dos Muse como "rock de estádio", os Muse como "marketizados" (como se não o fôssemos todos nós, num mundo completamente comoditizado), e o público como uma série de "dupes" acéfalos e acríticos que aplaudem qualquer porcaria que uma indústria massificada lhes impinge.


"Por muito que os Muse falhassem, a devoção já estava assegurada a priori. Nem um álbum excrementício como é o novo «The Resistance» foi capaz de travar uma euforia a que poucas bandas de rock têm direito na década que agora termina. E quando é assim, é sabido que os «adeptos» aplaudem, com golos de fora da área ou falhanços à boca da baliza.(...) O concerto não foi genial nem catastrófico(...)" Ler na íntegra aqui.



Por oposição é digna de nota a excelente crítica de Hugo Torres num medium no mínimo inesperado (A Bola), com um texto excelente tanto a nível formal como de conteúdo, revelando um bom conhecimento da banda e da música, algo de facto imprescindível para se poder avaliar a sua prestação.


"A resistência dos Muse está muito para além do nome do último álbum. A prova tirada este domingo no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, revelou uns doseadores exímios de euforia, gostos, expectativas e mesmo mensagem política. O trio britânico consegue agradar a gregos, a troianos e, de caminho, a toda a bacia do Mediterrâneo antigo. (...) A banda tentou construir, aliás, as narrativas ao longo do concerto: por exemplo, a um mundo uno, conseguido em United States of Eurasia, seguiu-se Feeling good – «It's a new dawn/ It's a new day/ It's a new life/ For me/ And I'm feeling good». Isto é política e os Muse são como as pessoas: queixam-se das promessas (eleitorais ou outras) que ficam por cumprir, da opressão quotidiana, etc., etc. A grande diferença é que o fazem muitos decibéis acima dos comuns." Ler na íntegra aqui.


De referir também a review equilibrada e detalhada do Diário IOL (João Carneiro da Silva), que inclui o alinhamento e faz a devida e justa referência aos escoceses Biffy Clyro, cuja prestação foi de facto muito positiva, tendo apenas sido (mais uma) vítima da má acústica do espaço, especialmente na abertura com a excelente "That Golden Rule". Igualmente digno de menção o facto do vocalista ter apresentado a banda e se ter despedido do público em português "Boa noite Lisboa, nós somos os Biffy Clyro", agradecendo também por várias vezes também em português. Ler na íntegra (e ver alinhamento do concerto) aqui.

Por fim destaco ainda a apreciação de Rita Tristany (Clix/Cotonete) do espectáculo, um texto também muito bem redigido e com alguma densidade de conteúdo que por vezes falta neste género:


"(...) A verdade é que os Muse já andam na estrada há mais de 15 anos e estão bem longe da época em que eram vistos como os sucessores dos Radiohead. O trio de Devon não só segue o seu próprio caminho há muito tempo, como também está confortavelmente sentado na poltrona do mainstream há vários anos, mas desenganem-se aqueles que julgam que a sua postura em palco se submete a concessões comerciais de qualquer natureza. As fundações hard rock ainda estão lá todas, sobretudo na guitarra sinfónica de Bellamy e na bateria do loirinho Howard. Os temas são reproduzidos sem falhas, com as paragens necessárias para as palmas e outros gestos de devoção. Mas, apesar da competência acima da média ao vivo, os três músicos não conseguem apagar da memória a notória incapacidade de surpreender nos álbuns mais recentes. Ainda assim, ninguém lhes tira o mérito de terem dado um melhores concertos que passaram pelo Pavilhão Atlântico este ano. O elogio é mútuo: «vocês são a melhor cidade por onde passámos nesta digressão», disse em tom de despedida Dominic Howard, antes de prometer um regresso já para o ano que vem." Ler na íntegra aqui.

Aqui ficam "The Captain" dos Biffy Clyro e  MK Ultra, ao vivo na O2 Arena, Londres, em 13/11.



1 comentário:

  1. Olá!!
    Confesso que já gostei mais dos Muse. Desliguei-me um pouco deles desde o "Black holes and Revelations" (se a memória não me falha, deve ser este o nome do disco!). Antes disso, foram a banda sonora de uma determinada altura da minha vida. Nada de especial, mas não esqueço a sensação que me dava, conduzir o velho Renault 5 ao som do Absolution...
    Detestei vê-los no Campo Pequeno, muito graças ao dito recinto ser péssimo para espectáculos musicais (pensando bem e no seu principal propósito, posso dizer que era espaço que podia desaparecer do mapa... mas isso é apenas a minha modesta opinião)
    Há muito que questiono a qualidade e a imparcialidade dos críticos de música. E este seu post é prova disso. Acho que na imprensa devia haver mais cuidado na escolha dos jornalistas para determinadas reportagens.
    Eu, não sendo jornalista e não sendo fan, por exemplo, do Tony Carreira, certamente tentaria respeitar o "artista" e o seu público e limitar-me a informar com decência e qualidade. Criticar sim, mas tendo em conta certos parâmetros. E, normalmente, quando o público delira, seja com rammstein, muse, tony carreira ou Marisa, quem são os críticos para o desdizer? Cada vez mais acredito que são pessoas que pouco ou nada percebem de música, mas que têm - como a grande generalidade dos Xicos Espertos deste país - a mania de que percebem de tudo e que podem opinar à vontade porque eles é que têm a suprema razão: a SABEDORIA!!...
    ... Dou graças a Deus por existirem excepções. E as excepções são exemplares e de um profissionalismo fora de série. Bem hajam!!
    Blá, blá, blá e esqueci-me do que me trouxe até aqui: e para si, como foi o concerto? Pulou muito? ;)
    bjs***

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