18 junho 2010

Entrevista a Diana Rosa (Fanzine Outsider)

No seguimento do último post, aqui fica a entrevista que o A Crack in the Cloud fez a Diana Rosa, directora da fanzine Outsider.



Olá Diana. Obrigada pela disponibilidade para esta entrevista, numa altura complicada da preparação do segundo dia da 3ª edição do Festival Outsider.

Olá Maria João. Muito obrigada pela oportunidade que o A Crack in the Cloud oferece no sentido de partilha de ideias.

Para quem não conhece a revista, o que é a Outsider e o que é que as pessoas lá podem encontrar?

A Outsider é uma fanzine mensal. Acima de tudo o nosso tema é a música, mas também abordamos variadíssimos outros assuntos que os nossos colaboradores trazem para a mesa. Para além de entrevistas, críticas, reportagens, calendário de concertos, temos um espaço dedicado à expressão artística em formato visual, temos alguns artigos de opinião e por vezes temos artigos bastante interessantes sobre espaços influentes no panorama underground nacional.

Fala-nos um pouco de como surgiu a ideia da revista…

Surgiu da necessidade de criar um meio de comunicação dedicado a esta “minoria” que é o underground, o punk-rock e todos os outros estilos musicais mais pesados e fora do alcance dos media comuns. Infelizmente, cá em Portugal, não há nenhum meio de comunicação que esteja aberto a anunciar aquilo que divulgamos na Outsider (Ots). Mas algumas viagens a Espanha, França e Inglaterra mostraram-me que fora deste nosso país, estas publicações alternativas são bastante vulgares. Isto foi numa altura em que o site PunkPt – marco importante do panorama underground e uma grande perda – estava em vias de desaparecer e a ideia de este deixar de existir de certa forma preocupou-me.

Durante os seus últimos anos de existência foi-me dada a oportunidade de escrever as minhas primeiras reportagens, fazer fotografias e entrevistas. Posso dizer que fui muito inspirada por esta iniciativa do Hugo – PunkPt – para a criação da Ots. Mesmo no conceito de acessibilidade a todos, sendo no entanto difícil competir com a internet, através do custo da Ots. Para mim, este meio de comunicação teria de ser em papel, por isso intemporal, físico e disponível para recordações. Agora ninguém pode dizer que nenhuma publicação nacional entrevista bandas como Oi Polloi e No Use For A Name...existe a Outsider!

Devo acrescentar no entanto, relativamente a como surgiu a ideia da revista, que a primeira Ots era quinzenal e feita apenas por mim. Era terrível mas foi o apoio de quem assinou no momento que me deu força para continuar. Bem, continuar não será a palavra certa porque assim que pude terminei com este massacre quinzenal. Passado uns tempos repensei o projecto e voltei ao ataque de uma forma mais pensada.


Diana num concerto da sua banda, as Unpredictable
O facto de tocares numa banda influenciou a decisão de fundar a revista?

Não. Decididamente não. Foi antes, talvez, o facto de estar tão presente em concertos e em todo o movimento que me fez tanto integrar a banda como fundar a revista. Mas são projectos paralelos.

Queres explicar sucintamente a escolha do título “Outsider”?

Estava em casa, em frente ao pc a dar os primeiros passos com a zine que estava a criar. O nome estava a ser uma busca constante mas não era nisso que eu estava a pensar no momento. O meu iTunes estava em shuffle e, eis senão quando passa “Outsider”, cover de Ramones feita pelos Green Day. O refrão e o título da música pareceram-me imediatamente perfeitos para adjectivar aquilo que eu queria que a Outsider fosse. Ficou logo!

Quem é a equipa Outsider? Como é que ela se formou e tem crescido?

Inicialmente convidei para o projecto duas pessoas importantíssimas para a Ots existir hoje. Talvez com a recusa deles no momento nada existisse. Foram o Luís (design e paginação) e o Billy (Billy News). Sempre comigo mas sem integrar a Outsider em nenhuma função concreta esteve João Ribas que cedo passou para a direcção. A meu convite o João Pedro Almendra (Peste & Sida) criou uma coluna na Outsider intitulada “Sem Papas na Língua”. Abraçou o projecto com muito entusiasmo e, mesmo agora após ter saído a sua coluna mensal, continua a dar um grande apoio em vários sentidos! Entretanto tivemos alguns membros na redacção que cedo saíram do barco. É importante referir que, por esta altura, a revista ainda não tinha nem o nome que tem hoje nem a qualidade. Talvez isto fosse um dos motivos para que esses colaboradores não se tivessem empenhado.


Capa da Outsider nº 19, Dezembro 2009

Por intermédio do Almendra conhecemos a Sara Franco, que até hoje tem desenhado desde capas a logotipos a flyers de concertos. Este foi um marco importante na evolução da revista! Também a convite do Almendra entrou aquele que é até agora o único colaborador fora da zona de Lisboa, o Rafa e o seu “Canto do Anymal” são um apoio fantástico à Outsider. Por essa altura convidei o Bruno para escrever críticas a discos, pelo seu conhecimento técnico, bem melhor que o meu para o efeito; ainda hoje é um dos resistentes! Por esta altura arrisquei o convite a um grande amigo meu, o Fred, para entrar para a redacção. Foi sem dúvida uma grande surpresa a nível de capacidade descritiva, e quem lê a Outsider e reconhece os seus artigos sabe disso.

Pouco depois fizemos algo inédito, convidámos para a redacção uma assinante da Outsider que tínhamos acabado de conhecer, a Bárbara. Incialmente à experiência, acabou por ficar na redacção e também na direcção. Para fazer face ao problema dos erros ortográficos convidámos a Ana para a correcção ortográfica. Com mais trabalho a passar pelas mãos de todos os Luís sentiu a necessidade de ajuda na paginação, tendo entrado a Diana a convite de todos. Entretanto, com a saída da coluna do Almendra, convidámos o Hugo para escrever a sua coluna mensal “Porque a Vida não é só Futebol”. Foi uma lufada de ar fresco na revista, cheio de força o Hugo puxou por todos nós e tem sido uma ajuda fantástica, dando até uma mãozinha na redacção e tendo a seu cargo o “Portfólio”. Por último tivemos um regresso, a Cat que tinha colaborado no início da Ots voltou agora com vontade de trabalhar e está a ajudar a Ana na correcção e também na redacção. A estes todos, que passaram e já não estão, e aos que sempre estiveram, tiro o chapéu!

Qual é a relevância da revista, no contexto da imprensa musical nacional (física e virtual)?

Pouca. Penso que no contexto da imprensa nacional temos muito pouca relevância. Somos Outsiders. Uma revista para quem não encontra o que quer encontrar em qualquer uma das publicações disponíveis no mercado. Embora existam algumas revistas de música em Portugal penso que nenhuma aborda o género de artigos que publicamos na Outsider. Mas é assim que faz sentido, senão não teria criado a Outsider. Se existisse uma publicação do meu agrado acho que me podia encostar!

Quais têm sido as principais dificuldades e desafios ao longo destes dois anos e da produção de 24 números da revista?

Acho que as dificuldades são as mesmas de qualquer editora/banda/promotora do underground! Dificuldades financeiras já começam a ser um clássico. Da mesma forma como as bandas se queixam que “pagam para tocar”, nós queixamo-nos que pagamos para dar a ler aos outros. Acho que tanto as bandas como nós o fazemos por gosto e ponto final! Desafios...esses são diários e muito variados: Escrever dezenas de envelopes é um desafio! Penso que qualquer artigo que escrevamos é um desafio. Toda a Outsider é um desafio!


Capa da Outsider nº 24, Junho de 2010

Este número comemorativo apresenta algumas novidades em termos gráficos e de alguns conteúdos…

Sim, é verdade, temos um novo layout...bem giro até! Temos uma capa também com o bebé Outsider com dois aninhos! De resto, em termos de conteúdos, estreámos um artigo chamado “Uma Visita A...” que consiste em assistirmos a um ensaio de uma banda e o reportarmos. Também convidámos um colaborador que irá ficar connosco durante quatro edições, o Bidgi, e após estas quatro edições estamos a contar já com um novo colaborador!


Cartaz da 1ª edição do Festival Outsider, Maio 2009


Fala-nos um pouco da génese do Festival Outsider e da experiência da organização de já 3 edições…

Como toda a Outsider o exige, é um exercício muito grande de trabalho em equipa. No primeiro festival trabalhámos logo muito, desde publicidade a distribuirmos tarefas no dia do concerto. O segundo festival exigiu mais de nós. Era na Caixa Económica Operária e subir várias vezes aqueles três andares é um massacre... principalmente com barris de cerveja! O bar era nosso e tivemos inclusivamente de pedir ajuda a amigos fora da Outsider. No entanto e apesar de todo o cansaço acho que foi muito positivo para todos nós! Este terceiro (primeiro dia) foi novamente na Casa de Lafões, logo mais calmo. Temos tido a preocupação de não repetir bandas nas edições que se têm feito do Festival, dando sempre oportunidade a novas bandas, e de nem chamar bandas estrangeiras, incentivando novamente a que os nossos projectos sejam valorizados.


Cartaz da 2ª edição do Festival Outsider, Outubro 2009

Qual é o balanço de fazes destes 2 anos à frente do projecto Outsider?

Posso dizer que até faço um balanço positivo. Se não teria já abandonado o barco. Penso que aos poucos tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos e que as bandas têm vindo a reconhecer o nosso trabalho como importante na divulgação da música nacional… também para o público a publicação tem sido útil! Ao fim de dois anos continuamos sem ser profissionais. Continuamos a ter gralhas. Continuamos a cometer erros. Mas temos uma vitória do nosso lado: todos os meses lançamos uma Outsider melhor que a anterior, todos os meses queremos fazer melhor, por gosto e dentro das nossas capacidades. É esse o nosso mérito, penso eu.

Podes-nos avançar alguma coisa sobre alguns dos projectos da equipa Outsider para o futuro, no que respeita à revista e ao Festival?

No que respeita à revista não há grandes mudanças em mente. Mudámos agora o layout, custo e parte da estrutura e tão cedo não temos nada em mente. No entanto o Festival Outsider 4 já está a ser tratado... e mais não digo!
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....E mais não disse mesmo...temos de aguardar pelas notícias, que serão oportunamente divulgadas pelo A Crack in the Cloud.

Entretanto, aproxima-se a 2ª parte do Festival Outsider 3, agendada já para amanhã, 19 de Junho na Casa de Lafões, com a presença de bandas de peso do panorama underground e o regresso muito esperado dos Kamones, banda de covers dos Ramones de que fazem parte João Alves (Peste & Sida), João Ribas (Censurados/Tara Perdida) e Paulinho (Gazua).

É razão para dizer "Hey Ho Let's Go!!!!"

Fica então o cartaz desta 3ª edição do Festival Outsider e "Outsider", o tema dos Ramones, interpretado pelos Green Day (num álbum de tributo), que deu o nome a esta importante revista.

Para assinar a revista, basta enviar um email para outsider.email@gmail.com .


Cartaz da 3ª edição do Festival Outsider, Junho 2010

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