10 junho 2010

Entrevista a João Morais (Gazua) - 2ª Parte


Na continuação do post anterior, reproduz-se aqui a 2ª parte da entrevista ao frontman dos Gazua, João Morais, maioritariamente centrada no 3º álbum de originais da banda, Contracultura, e no seu lançamento, agendado já para o próximo dia 18 de Junho.


O que é que as pessoas em geral, e os apreciadores de Gazua em particular, podem esperar deste novo trabalho, Contracultura, em termos musicais (continuidades/rupturas e inovações)?

A continuidade estará sempre lá, pois somos os mesmos 3 músicos, tocamos os mesmos instrumentos e continuamos os 3 de cabeça dura!


Inovações e rupturas haverá sem dúvida... a nossa música é de e para pessoas de mente aberta. Não há preconceitos! O estado de espírito muda e com isso muda a composição. Se há coisas que não são bem-vindas são barreiras criativas.


Gostei de ouvir dizer que o Contracultura é um disco à "gazua", o que quer dizer que existe um cunho nosso.

O vosso pendor crítico e de intervenção torna-se mais explícito e omnipresente no trabalho que está aí a ‘rebentar’. Queres explicar o título (e talvez do conceito orientador) do álbum, Contracultura? É um conceito com uma grande carga histórica…

De forma sucinta, Contracultura foi o nome dado a um movimento que atravessou os anos 60, incidindo particularmente nos EUA mas também na Europa (França com o Maio de 68 e na Checoslováquia com a Primavera de Praga também em 68), onde se viveram anos de muita contestação social levada a cabo por jovens que se mobilizaram para questionar e criticar os valores culturais vigentes.


Tabus como o racismo, a corrupção, a guerra e os direitos das mulheres ou os direitos civis de uma forma geral, são alguns exemplos das motivações que geraram estes movimentos.

Gostei da ideia, li um excelente livro sobre o assunto e achei o tema ideal para explorar no novo trabalho.

De que forma é que o conceito de contracultura é desenvolvido no álbum (nas temáticas abordadas e também graficamente)?

O disco tem um design muito inspirado nos flyers que se usavam há uns anos para passar informação.

Tem um poster com uma série de personalidades que criaram pontos de mudança ao longo dos tempos, desde o Voltaire em França no séc. XVIII com a defesa das liberdades civis e religiosas, ao Michael Moore e os seus filmes que denunciam alguns podres da sociedade americana. São tudo pessoas que tentam criar os tais pontos de mudança.

O disco vem acompanhado ainda de um patch para coser numa peça de roupa, uma palheta para tocar, um pin para colocar num casaco ou mala e um autocolante para colar em qualquer lado, sendo tudo junto uma espécie de "Kit" para esta nova Contracultura.

(Imagem disponível em http://www.myspace.com/gazua)

Vários temas deste novo trabalho – por exemplo “A Mudança que Queres Ver”, ou “Preocupa-te”, já disponíveis no vosso site do myspace - apelam à necessidade (e à urgência) de uma tomada de consciência e participação individual activa na transformação social...vocês consideram-se herdeiros e representantes na sociedade actual da tradição da música de intervenção? Ela ainda faz sentido hoje/é necessária?

O facto de ter havido um regime Fascista em Portugal não justifica que apenas nessa fase tivesse havido contestação. Hoje não temos o Fascismo, mas temos o Capitalismo, que é um inimigo também perigoso, mas muito mais "matreiro". Não se mostra com tanta clareza.


A música de Intervenção é isso mesmo... inspira a Intervenção e isso tem que fazer parte do nosso dia-a-dia.

Sim, a consciência histórica é outra das características bem visíveis no vosso trabalho. Têm temas dedicados a momentos e a figuras importantes da nossa história… Raymond Williams, um teórico social e cultural britânico, afirma que “a história ainda nos mostra a maior parte do passado conhecível e todo o tipo de futuro imaginável”. É também esta a tua/vossa visão? É por isso que a história recente está tão presente no vosso trabalho?

Uma opinião não se pode construir apenas pensando no presente e olhando para o futuro. Tem que ter as suas fundações também no passado. É como um alicerce.

A maior riqueza de um país está na sua identidade cultural, é aí que se cria um elo entre o seu povo. Claro que há sempre coisas boas e coisas más, mas teremos que saber usar os exemplos bons e não repetir os exemplos maus.

Um dos problemas que sinto que temos é que de repente há uma nova geração em que as suas (poucas) referências vêm todas de fora e por isso acabam por desprezar o seu próprio país não sentido qualquer vontade de lutar por ele numa perspectiva de intervenção política, deixando o país à deriva.

(Imagem disponível em http://www.myspace.com/gazua)


Para terminar, gostava que levantasses a ponta do véu relativamente ao que poderemos esperar da festa de lançamento do álbum, já no próximo dia 18 no S. Jorge…

Esse concerto está a ser preparado de forma um pouco mais especial, não porque é mais importante que os outros concertos (não é!), mas porque queremos fazer desse dia um dia de viragem na nossa atitude em palco, não uma viragem radical, obviamente, mas criando mais pontos de comunicação com o público e com um fio condutor mais consistente do inicio ao fim do espectáculo.

Vamos como é óbvio tocar muitos temas do novo disco...


Temos neste momento um problema que é a selecção dos temas, visto a lista estar a crescer bastante :-)


Obrigado pela entrevista e pelo apoio!

O A Crack in the Croud é que agradece, ao João pela disponibilidade, e aos Gazua pela música entusiasmante e interpeladora.

Entrevista realizada por Maria João Ramos, aka Sheena.  

Sem comentários:

Enviar um comentário