08 junho 2010

Entrevista a João Morais (Gazua) - 1ª Parte


(Foto  por Sónia Pena, disponível em

Os Gazua são uma das bandas mais interessantes, activas e produtivas do panorama musical actual. O projecto nasceu em 2005 mas é constituído por três músicos com um longo percurso e experiência profissionais: João Corrosão (guitarra e voz), Paulinho (baixo e voz) e Corvo (bateria). O volume e o ritmo de trabalho deste verdadeiro power trio são extraordinários, com a produção de um álbum de originais por ano desde 2008.

O lançamento do novo trabalho, Contracultura, agendado já para o próximo dia 18 de Junho no Cinema São Jorge em Lisboa, é indiscutivelmente um dos principais acontecimentos de 2010 no panorama musical nacional  e deu o mote para esta entrevista: João Morais é o vocalista, guitarrista e autor da maioria das letras e das músicas dos Gazua, assim como do grafismo elaborado e conceptual que é mais um elemento distintivo deste projecto.

O A Crack in the Cloud muito agradece desde já a disponibilidade do João, numa altura de grande azáfama na preparação do lançamento deste terceiro álbum de originais.

 
Para quem ainda não vos conhece: quem são os Gazua e como defines o vosso projecto?

Os Gazua são 3 músicos de cabeça dura que não conseguem deixar de fazer música. Todos temos bastante experiência no circuito musical, e concentramos agora energias para levar este projecto o mais longe possível.

Somos uma banda de essência punk-rock, mas sem preconceitos para com todos os outros géneros. As portas estão escancaradas! A música é uma linguagem Universal!

A maior ligação ao punk-rock surge por ser uma das nossas principais referências musicais, e por ser um género onde a parte lírica desempenha um papel importante e reivindicativo.

Podemos considerar que tocamos música de intervenção.

(Foto disponível em http://www.myspace.com/gazua )

As categorizações musicais convencionais são importantes para vocês?

As categorizações são necessárias mais na perspectiva da indústria, onde tudo se encaixa por estilos e/ou géneros.Claro que isso influencia tudo o resto e hoje é essencial para facilitar a explicação do que se está a fazer.

No que diz respeito ao funcionamento da banda, penso que é pouco importante, pois o que tentamos fazer é algo com que nos identifiquemos e isso pode vir de referências bem distintas e não só do punk-rock.

Ainda sobre a vossa ligação ao punk, não só em termos musicais mas também conceptuais…consideras que o punk foi um fenómeno datado histórica e geograficamente ou que ainda existe e é pertinente hoje, por exemplo no contexto nacional?

Se pensar neste género como uma filosofia de vida (mais autónoma em relação à cultura instituída), acho que o punk pode estar presente sempre que assim optarmos, sempre que quisermos levantar a voz e criticar alguma coisa que achemos menos correcta, ou simplesmente se quisermos fazer as nossas próprias opções de vida não seguindo apenas a moda da altura.

Claro que há sempre quem transforme o punk numa moda, (ou num cartão de visita em Londres...), mas este género veste-se por dentro e não por fora.

Cá em Portugal, penso que todos deveríamos ter algum "punk-rock" dentro de nós :-), pois isso ajudaria a desenvolver algum espírito crítico, coisa muito em falta no nosso país.


O conceito do vosso trabalho estende-se também à forma como todo o grafismo/artwork é concebido e implementado em cada um dos álbuns…

O grafismo também ajuda a ampliar a mensagem que se quer transmitir. Ainda para mais, tenho formação em design e nesse aspecto não gosto de deixar passar nada ao acaso.

Sempre me fascinou o artwork dos discos das bandas que gosto, por isso dou muita importância ao que se transmite visualmente.

Fala-nos um pouco do caminho que a banda percorreu ao longo destes três trabalhos, separados entre si por um curtíssimo espaço de um ano…em que medida em que eles se diferenciam…ou como é que vocês evoluíram, no que concerne à vossa música e enquanto colectivo?

Costumo dizer que gravar um disco faz uma banda olhar para si própria e aprender muito em relação ao que está a fazer. Gravar 3 discos dá portanto um conhecimento muito mais profundo. Os Gazua cresceram muito com o estúdio e com o feedback que esse trabalho trouxe de fora. Conseguimos entender melhor o que queríamos. Vejo estes 3 discos como uma evolução natural, onde fomos tentando ser cada vez melhores naquilo que fazemos.

O primeiro disco "Convocação", foi um trabalho mais cru musicalmente e liricamente, o segundo disco "Música Pirata" já teve mais trabalho ao nível da composição dos temas e das letras, os temas tornaram-se por isso mais complexos, e no terceiro "Contracultura" procurámos um equilíbrio entre os dois primeiros, se bem que neste último o artwork teve uma componente conceptual muito mais aprofundada.

Como banda, diria que estamos muito mais adultos, e por isso mesmo queremos agora explorar outros caminhos que personalizem ainda mais o nosso som.
Que caminhos serão esses é que ainda não sabemos... :-)

(Foto disponível em http://www.myspace.com/gazua)

Vocês são também extremamente activos no que concerne a prestações ao vivo, sendo requisitados para um sem número de eventos um pouco por todo o país…Tens algum/alguns concerto(s) que guardes na memória, ou que recordes especialmente?

O palco principal da Festa do Avante foi sem dúvida o ponto mais alto até à data. Sentimos mesmo que o que estamos a fazer faz sentido.

Há com certeza outros concertos em que nos sentimos muito bem, mas achamos que estamos a começar e que o melhor ainda está para vir.

Como é que vocês conseguem conciliar a produção de um álbum por ano (sendo responsáveis por todo o processo criativo) com as prestações ao vivo, projectos musicais paralelos e as vossas vidas pessoais/familiares? É espantoso…a música é a vossa principal actividade?

HA! HA! HA! HA!!!
A música ser a principal actividade neste país seria quase mau sinal... para vender muitos discos acho que teríamos que descer muito a fasquia (infelizmente...). Pode ser que as coisas mudem.

Temos todos empregos durante o dia.
Em relação a projectos paralelos até se pode dizer que neste momento são inexistentes. Máxima concentração!!

Temos também tido uma política "financeira" em que o dinheiro que a banda faz é para gastar na banda, e isso tem criado condições para o trabalho continuado que temos vindo a desenvolver.

Há acima de tudo muita vontade de tocar e fazer passar a mensagem.

(Foto por Sónia Pena, disponível em


Como é que é ser-se músico em Portugal hoje?

Tirando uma ou outra estrela cintilante, pode-se dizer que é frustrante!
Infelizmente a Inglaterra e os EUA continuam a saber melhor o que é que é bom para nós... A nossa cultura musical é quase totalmente importada (assim como tanta outra coisa), deixando a música nacional sempre para segundo plano.
  
Há uma componente forte de reflexão e de crítica social e política no vosso trabalho, que tem vindo a assumir contornos cada vez mais expressivos …isso é casual ou tem a ver com a vossa experiência/percepção da sociedade contemporânea?

Digamos que estamos cada vez mais crescidos... e mais atentos!
Claro que quanto mais nos afundamos nesta sociedade totalmente capitalizada, mais sentimos necessidade de passar a nossa mensagem.

Queremos que as pessoas parem para pensar um pouco. Que se tentem concentrar no essencial e que consigam dizer não ao supérfluo.

O que nos é incutido diariamente é exactamente o oposto disto.

(Fim da 1ª Parte)

A segunda parte desta entrevista, mais centrada no novo trabalho dos Gazua - Contracultura - será publicada no próximo post.

Entretanto fica o vídeo de "Para Todos", ao vivo na Festa do Avante em Setembro de 2009.

2 comentários:

  1. **********************


    Excelente entrevista, parabéns!

    Aqui se fica a conhecer mais um pouco da postura desta banda e algumas ideias que se reflectem na mensagem, por via das letras dos temas.

    Aguardemos então a segunda parte desta entrevista, bem actual e a propósito do lançamento do novo disco!


    **********************

    ResponderEliminar
  2. Parabéns! Sem dúvida, uma óptima entrevista, que cumpre a função louvável de divulgar o trabalho de uma banda que não pode – nem deve! – passar despercebida.

    ResponderEliminar