17 dezembro 2009

A contínua popularidade e actualidade dos Censurados (Parte II)

(continuação do post anterior...)

Este post inclui três vídeos dos Censurados (Angústia, Entrevista, Não vales nada).


A música é, sem sombra de dúvida, o factor determinante para o extraordinário sucesso e popularidade, bem como para o estatuto mítico que a banda rapidamente alcançou e continua a deter:

“As letras, em português, eram simples e directas, refrões fortes que traduziam o sentimento da juventude da era Cavaquista. O primeiro registo em vinil, na compilação "Feedback 001" incluiu os temas Senhores Políticos, Não Vales Nada e Está a andar de Mota (um instrumental). Tu ò Bófia, Não Vales Nada, Angústia, Senhores Políticos eram temas fortíssimos que foram passando de cassete em cassete e eram entoados em coro nos concertos muito antes do lançamento do álbum "Censurados", em 1990. Este disco é um álbum histórico que foi aclamado pela mais importante fanzine dedicada ao Punk e Hardcore na altura, a Maximum Rockn'Roll (EUA)”
É de facto a sonoridade dos Censurados, aliada a letras directas e acutilantes que abordam temáticas intemporais ou, por outro lado, profundamente actuais e ajustadas à sociedade contemporânea, que parecem explicar a imensa popularidade que os Censurados continuam a possuir, e o facto de continuarem a ‘tocar’ e influenciar as gerações mais jovens, posteriores ao ciclo de vida da banda.


No que respeita aos temas intemporais das letras, refira-se exemplificativamente a multiplicidade de situações / papéis que vivemos ao longo da nossa existência (ou a complexidade intrínseca do ser humano) de “Fui”, a rejeição social da diferença abordada em “Animais”, a inquietação, o desalento ou a perda de rumo em “Angústia”; “Não”; “A minha vida”, “Já sei” ou “Melhores dias virão”, os amigos falsos e oportunistas em “Amigo” ou “Venenosa”, a pequena vigarice de “Coxa”, as dificuldades da vida quotidiana urbana em “É difícil”.



Mencione-se ainda a abordagem crua e directa de temas de cariz social ou político em “Srs Políticos” (letra da autoria de João Pedro Almendra/'Autista') (“Quanto é que eles ganham/E se fartam de gastar/Enquanto meia dúzia/Se enche a valer/Há pessoas que têm frio/Sem nada para comer”), “Guerra Colonial” (“Só iam para lutar / Só iam para matar (…) /Só iam para sofrer/Só iam para morrer”), “Quero ser eu”, “Revolução”, “É difícil” (“É difícil, é difícil conseguir estar empregado/Mais difícil, mais difícil é ter um bom ordenado”), “Sopa”, “Buracos”, “Todos no mesmo barco” (Não é preciso pensar muito/O que digo não é novo/Todos sabem e é verdade/Quem se lixa é sempre o povo”), ou “Não vales nada” , para não falar do brilhante “Kaga na Cultura”, em que a ideia errada mas ainda hoje dominante de que apenas o passado e a erudição são “cultura” é exposto, atacado e desprezado:


“Diz-me o que vês/Na nossa cultura/Cheia de recordações ancestrais (…)/Kaga na cultura em Portugal/Daqui a 500 anos/Também podes ser cultura/Seres falado por toda a parte/Fazerem-te homenagens/Meia dúzia de doutores/Dizem que foste um génio/Mas a ti já nada te interessa/Porque nessa altura já estás morto.”



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