Na sequência dos dois últimos posts impõe-se a sugestão do livro de Augusto Figueira e Renato Conteiro Censurados até morrer!, de 2006, editado pela Sete Caminhos. Está extremamente bem redigido e documentado, com muita substância mas sem ser denso. O texto inscreve-se num registo muito informal, descontraído, e cheio de humor, que proporciona uma leitura fácil e muito divertida.
Trata-se de um livro fundamental não só para conhecer a biografia daquela que muitos consideram ser a melhor banda portuguesa de punk rock de sempre, mas para perceber um pouco como se desenvolveu a cena musical punk rock portuguesa a partir das ondas de choque emanadas do punk de 77/ movimento punk original.
É um trabalho que reflecte e cultiva ele próprio a ética punk, na medida em que recusa relatos idealizados e saudosistas, optando pela exposição realista, directa, crua e sem censuras (leia-se, com palavrões pelo meio!) da vida da banda e dos seus membros: o seu talento, a sua irreverência, o seu quotidiano, as suas qualidades, os seus defeitos, e os habituais excessos...
Talvez o aspecto que mais ressalte no livro seja essa dimensão humana que os autores lhe conseguiram imprimir, através da escrita documentarista que, solidamente apoiada em relatos tanto dos membros da banda como daqueles que os acompanharam (fãs, amigos, managers, etc.), assume um cariz extremamente visual. Essa característica, aliada às muitas fotos inclusas, fazem com que o leitor se sinta transportado para dentro da narrativa… como se tivesse estado lá…
Recomenda-se vivamente.
Ficam alguns excertos ilustrativos:
“(…) o nome surgiu numa tarde, numa conversa de café. Depois de vários nomes censurados, nomeadamente “Doenças Sexualmente Transmissíveis”, “Sentença de Morte”, “Emergência 115”, “Ressacados” e “Sopa Nisso” ficou o nome “Censurados”. Sobre o nome “Ressacados”, Ribas afirma que nunca houve nenhuma banda com esse nome até porque, afirma, “nós nunca tínhamos ressaca, andávamos sempre bêbados [risos]”” (p. 28)
[Lola, manager] ““Os Censurados eram uma máquina de fazer músicas. O Ribas escrevia letras a um ritmo alucinante. Lembro-me de ele ir à casa de banho e no regresso já trazer uma letra escrita no papel higiénico. Isto é verídico!”” (p. 65).
[Artigo do jornal Blitz, 25 Maio 1993, sobre gravação do videoclip de “Sopa” na Praça de Alvalade] ““Os Censurados (…) convidam todos os interessados e até os desinteressados a participarem. Como a canção se chama “Sopa”, aproveitem a oportunidade para dar sopa naquilo que vos desagrada. Lembrem-se das propinas, de Maastricht, de Timor, enfim, daquilo que vos encrava a garganta.”” (p.145)
É sem dúvida um livro interessante, não só pelo tema mas pela maneira como foi feita a ´colagem` dos momentos e especialmente pelos dados colocados a crú sobre esta excelente banda.
ResponderEliminarIndispensável para os fãs, interessante para quem mal conheceu os Censurados.
Como eu gostava de o ter!
ResponderEliminar