Este post inclui os vídeos de duas covers de Beds are Burning (Midnight Oil) no âmbito da campanha Climate Justice (2009), e de "Kepone Factory", Dead Kennedys, "Nuclear Waste", Oi Polloi, e "Kyoto Now!", Bad Religion".
Ao deambular sem objectivo pelo jornal britânico The Guardian (versão online) deparei-me com um artigo no blog de música do jornal, intitulado "Emergency on planet pop: How rock'n'roll failed to adjust to the climate", surgido no âmbito da recente e desastrosa (criminosa?) cimeira de Copenhaga. Para ler o artigo clicar aqui.
Em traços gerais, o autor contrasta o aparecimento recente e tardio de manifestações artísticas que visam directamente questões ambientais / de alterações climáticas com uma 'linhagem' musical de tratamento destas temáticas que se estende pelo menos desde o movimento hippie da década de 1960, e que assumiu uma abrangência quase banal: tal como ele refere, a defesa de causas ecológicas tornou-se quase obrigatória no universo pop e rock. Contudo, a argumentação rapidamente passa para a constatação e crítica da timidez e debilidade das letras e, consequentemente, da capacidade, criatividade ou sentido crítico dos seus autores.
Concordo com o autor na crítica velada a muitos músicos que abordam temas "quentes" da actualidade socio-política com objectivos puramente pessoais, como o incremento de vendas e/ou de popularidade.
Por outro lado, e sem conhecer a produção artística (não musical) sobre questões ambientais nas últimas décadas, tenho a certeza que ela existe, e que o autor está a incorrer num erro grosseiro ao defender o seu surgimento recente.
Por último, e relativamente ao carácter básico ou naïve das letras, mais uma vez considero que se trata de uma generalização inaceitável e uma grande dose de ignorância. É verdade que o autor se baseou principalmente na cover recente de "Beds are Burning" dos Midnight Oil por parte de um conjunto de músicos pop, para se tornar o "hino" da campanha global de pressão para a tomada de decisões sobre a questão ambiental (no âmbito da conferência de Copenhaga e em curso) http://www.timeforclimatejustice.org./, com inúmeros apoiantes célebres (como Kofi Annan, Desmond Tutu, Dalai Lama, entre muitos outros.
Contudo, a má qualidade da cover (e/ou da adaptação da letra) não pode ser tomada como exemplo da generalizada falta de qualidade de músicas e letras sobre questões ambientais. Para além disso é bom lembrar (e o autor omite ou não sabe) que a música original, ao contrário de outras dos Midnight Oil, não aborda questões ambientais, mas advoga a devolução das terras tomadas à tribo aborígene Pintupi.
Para concluir: apesar de insípida, e pouco eficaz, dada a notória ausência de figuras "galácticas" do universo pop anglo-saxónico, mais preocupadas em organizar tournées milionárias, a cover de "Beds are Burning" tem mérito, no âmbito da causa que serve. Muito mais interessante, contudo, mas menos mediática, é a versão latina realizada por um grupo de músicos Peruanos (ver abaixo).
Por outro lado, há de facto uma tradição já longa é extensa (mas talvez principalmente fora do mainstream...) de abordagem musical de temáticas ambientais, com produção de grande qualidade - textual e musical. Claro que isso é muito fluido e discutível. Mas talvez seja mais interessante do que o vazio de conteúdo e de mensagem que existe e prolifera no universo musical, pop e não só.
Aqui ficam três exemplos: "Kepone Factory", Dead Kennedys (1978/1981), "Nuclear Waste", Oi Polloi (1987/2001), e "Kyoto Now!", Bad Religion (2002).
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