Para ver outras fotos dos Gazua por este carismático fotógrafo e jornalista musical, digníssimo conterrâneo e cidadão do mundo, disponíveis no site da banda no myspace, clicar aqui.
Recorde-se que os Gazua estão já em contagem decrescente para o lançamento do novo trabalho, Contracultura, agendado para o próximo dia 18 de Junho no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Entretanto, marcarão presença amanhã no Infected Fest 2 (Casa de Lafões, Lisboa, por volta das 18.40h) e no próximo dia 11 de Junho em Luz de Tavira.
A banda já avançou no seu site do myspace três excelentes temas deste novo trabalho, cuja audição se recomenda vivamente: "A Mudança que Queres Ver", "Preocupa-te" e "Casa dos Fantasmas". Basta visitar
Este post inclui um vídeo do célebre discurso de Martin Luther King "I have a dream".
Um conjunto de artistas, de várias nacionalidades e de várias áreas da cultura, uniram-se num movimento de protesto, denúncia e boicote de uma lei racista e criminosa (de nome SB1070) aprovada e em vigor há cerca de 1 mês no estado americano do Arizona, que dá plenos poderes à polícia para interpelar qualquer transeunte se desconfiar da sua nacionalidade ou da legalidade da sua residência nos EUA. Se a pessoa em causa não apresentar a documentação que confirme a sua cidadania americana será preso como criminoso.
Alguns artistas musicais que integram o movimento estão já a recusar-se a actuar no Arizona: é o caso dos Rage Against the Machine, de Joe Satriani, dos Rise Against e dos Sonic Youth, entre muitos outros.
O movimento tem um site onde a situação é denunciada, numa carta aberta da autoria de Zack de la Rocha (Rage Against the Machine), e onde se encontra uma petição que exige a revogação desta lei.
Há quem não concorde com o boicote destes músicos: os Fucked Up (banda canadiana de hardcore), por exemplo, acreditam que não actuar no Arizona não resolve o problema, e defendem pelo contrário que os músicos utilizem os seus concertos naquele estado para denunciar e criticar a lei.
É um ponto de vista legítimo. De qualquer forma, é (sempre) óptimo assistir à mobilização dos músicos (e dos artistas em geral) na defesa de causas sociais e políticas, e neste caso particular, à união de esforços e de vozes de artistas que utilizam a sua visibilidade e capacidade de comunicação para rejeitar e denunciar a violação de direitos humanos pelos quais muitos morreram há relativamente pouco tempo...no caso dos EUA, vem-nos imediatamente à memória Martin Luther King, justamente mencionado por Zack de la Rocha na carta referida, que pode ser lida na íntegra no site http://www.thesoundstrike.net/ .
Fica aqui um excerto da carta e também algumas palavras de Joe Satriani.
"Fans of our music, our stories, our films and our words can be pulled over and harassed every day because they are brown or black, or for the way they speak, or for the music they listen to. People who are poor like some of us used to be could be forced to live in a constant state of fear while just doing what they can to find work and survive. This law opens the door for them to be shaked down, or even worse, detained and deported while just trying to travel home from school, from home to work, or when they just roll out with their friends.
Some of us grew up dealing with racial profiling, but this law (SB 1070) takes it to a whole new low. If other states follow the direction of the Arizona government, we could be headed towards a pre-civil rights era reality. This unjust law was set into motion by the same Arizona government that refused to acknowledge Martin Luther King Jr. day as a national holiday.
When Rosa Parks refused to give up her seat, they arrested her. As a result, people got together and said we are not going to ride the bus until they change the law. It was this courageous action that sparked the Montgomery bus boycott. What if we got together, signed a collective letter saying, "we're not going to ride the bus", saying we are not going to comply. We are not going to play in Arizona. We are going to boycott Arizona! Signed, Zack de la Rocha".
Joe Satriani: "[I feel] terrible about the idea of boycotting Arizona," Satriani told Billboard. "I have friends there. I have a lot of fans there. ... [But] SB1070 just doesn't have enough in it to make it a good law. In the last 15 years the erosion of rights of American citizens has put us close to a police state. We teeter back and forth; that's what you have to be vigilant about." (in The Guardian, aqui).
Vale a pena revisitar o célebre discurso do Prémio Nobel da Paz...o seu sonho continua por cumprir, e as conquistas alcançadas, parcialmente fruto da sua luta, estão a ser violenta e criminosamente cerceadas, e têm de continuar a ser (repetidamente) defendidas.
Este post inclui os cartazes dos festivais musicaisInfected Fest 2 (29 e 30 de Maio) e Festival Outsider 3 (10 e 19 de Junho), e o vídeo de "Queremos a Música de Volta" dos Gazua.
Os festivais de música têm sido objecto de tratamento na imprensa escrita recente, nacional e não só. Por exemplo, a revista Ípsilon de 14/05 e um artigo do The Guardian de 20/05 incluíam um "guia" para os múltiplos festivais musicais agendados para quase toda a silly season. A Y foca os festivais mais mainstream, o artigo do Guardian incide sobre alguns dos mais alternativos, originais e/ou menos institucionalizados...
Este interesse dos media (não só dos jornais) não é de estranhar, dado que a música (especialmente a dita pop e rock, e especialmente anglo-saxónica), e os respectivos eventos musicais se tornaram nos últimos anos um dos produtos de consumo mais agressivamente promovidos pelo mercado, e decerto um dos mais bem sucedidos, no que concerne aos lucros que proporciona à minoria (afluente) que os produz, vende e operacionaliza.
Ao longo deste processo, a música tem vindo a tornar-se, cada vez mais, um motivo meramente acessório, ou o pretexto ideal, para o consumo do produto-experiência festival.
A ida a festivais (ou em termos genéricos) a eventos musicais detém um estatuto equivalente ao de umas calças ou umas sapatilhas de marca, e é mais um complemento à casa (nova ou renovada) numa zona in, ou ao carro novo, se possível de alta cilindrada e de uma marca (mais ou menos) exclusiva...
Ou seja: na sociedade de consumo, em que as pessoas constroem a sua identidade através do que têm e não do que são, ir a festivais, tal como possuir ou exibir determinados bens de consumo, é um indicador de integração e sucesso social. O slogan já gasto do Rock in Rio, orgulhosamente estampado nas T-shirts, é inequívoco: "Eu vou", ou eu fui, eu estive lá, eu sou in...
Só assim se compreende que num país onde o desemprego não pára de subir, onde os vencimentos são baixos, e o custo de vida elevado, cerca de 80,000 pessoas (e decerto não apenas de um segmento economicamente afluente da população) tenham participado no 1º dia do Rock in Rio (independentemente da qualidade -muito discutível aliás - do cartaz).
Num livro muito interessante sobre o consumismo actual, intitulado Consuming Life, Zygmunt Bauman distingue entre duas formas diferentes de convívio: anteriormente, na sociedade dos produtores (ou na época da "modernidade sólida", até há algumas décadas), havia o grupo: as pessoas reuniam-se com pessoas que conheciam, com as quais se identificavam, por via de laços familiares, profissionais, de amizade ou de interesses específicos.
Agora, na sociedade dos consumidores (modernidade líquida) há o enxame: as pessoas reúnem-se com pessoas que não conhecem, com as quais apenas partilham uma proximidade física, em eventos fugazes, sem que se estabeleça qualquer tipo de relação, de laço...De acordo com Bauman, a sociedade de consumo favorece o fim do grupo, da comunalidade, em detrimento do enxame (que fornece, ainda que fortuitamente, "a segurança dos números")...
E é por isso que há festivais de música (de que o Rock in Rio é um exemplo paradigmático)que são autênticos parques temáticos, cujo verdadeiro e principal fim e produto é a compra per se, ou seja, o consumo (extremamente lucrativo) do merchandising, da fast food, da cerveja a preço de metal precioso, dos desportos pseudo-radicais, de um sem número de futilidades que servem primordialmente os interesses dominantes do capitalismo, ou seja, o rechear ainda mais dos bolsos de alguns (quase sempre os mesmos).
Mas não tem de ser assim. O mundo não é assim, não é só isso. Há eventos musicais onde o grupo ainda não deu lugar ao enxame. Ainda há festivais de música onde o principal ingrediente e propósito, tanto de quem os organiza como de quem os frequenta, não é o lucro fácil e escandaloso, nem o pontinho na caderneta do sucesso e da pertença social, mas a MÚSICA. A oferta é considerável. É apenas preciso estar atento e fazer escolhas.
Ficam os exemplos de 2 festivais de música que ocorrerão em breve, que provavelmente não serão publicitados nos media, nem terão multidões, muito menos lucros assinaláveis, mas onde haverá decerto muita (e boa) música, eminentemente nacional, a um preço acessível a todos, e um espírito palpável...de grupo.
Fica também o vídeo de "Queremos a Música de Volta", um dos (muitos) temas fortes de Música Pirata (2009) dos Gazua, já em contagem decrescente para o lançamento do novo trabalho, Contracultura, agendado para o próximo dia 18 de Junho no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Este post inclui o vídeo do concerto dos Peste & Sida no In Live Caffé (2008).
Como destacado ao longo desta semana no A Crack in the Cloud, os Peste & Sida actuam hoje no Largo Camões em Lisboa, num concerto gratuito integrado no programa do 9º Congresso da JCP, que se realiza este fim-de-semana.
Prestes a completar 25 anos de existência, e de uma carreira recheada de sucesso, os Peste & Sida são merecida e indiscutivelmente uma das bandas de topo da cena musical portuguesa.
Os Peste & Sida são também um exemplo paradigmático de que (como se dizia no último post) a música, tal como a identidade (ou seja, aquilo que somos) é não só uma questão de estética como de ética. No caso dos Peste & Sida, a ética, a responsabilidade e o sentido cívicos são assumidos com frontalidade nas letras das suas músicas, que combinam a perspicácia e acutilância sociais e políticas com uma qualidade estética dificilmente igualada no panorama musical actual (muito especialmente no último trabalho, Cai no Real (2008)).
A música dos Peste & Sida tem ainda a rara característica de nos oferecer um potencial imenso de fruição, barrando-nos ao mesmo tempo qualquer possibilidade de escapismo, de evasão anestesiante à realidade em que vivemos. Podemos dançar alegremente ao som de "Cidade Veneno", mas é com embaraço, e mesmo com um incómodo profundo, que o tema persistente e impiedosamente nos assola a mente no caminho para o centro comercial:
"Como um animal de abate, carne, sangue da manada
Só ruminas, não fazes nada,
Passa-te ao lado o roubo neoliberal
Vives a cultura do gueto comercial"
Enquanto aguardamos com expectativa e alguma ansiedade o novo trabalho dos Peste & Sida, e especialmente para quem não tem a possibilidade de participar no concerto de logo há noite, fica o vídeo de um outro concerto excelente, desta feita no In Live Caffé, Moita, em 2008.
" O meu argumento assenta em duas premissas: primeiro, que a identidade é móvel, um processo e não uma coisa, um tornar-se e não um ser; segundo, que a nossa experiência da música - de fazer e de ouvir música - deve ser entendida como uma experiência deste eu-em-desenvolvimento. A música, tal como a identidade, é tanto execução como história, descreve o social no individual e o individual no social, a mente no corpo e o corpo na mente; a identidade, como a música, é uma questão tanto de ética como de estética". (Simon Frith, 1996)
Ou, no original:
"My argument (...) rests on two premises: first, that identity is mobile, a process not a thing, a becoming not a being; second, that our experience of music - of music making and music listening - is best understood as an experience of this self-in-process. Music, like identity, is both performance and story, describes the social in the individual and the individual in the social, the mind in the body and the body in the mind; identity, like music, is a matter of both ethics and aesthetics."
Simon Frith (1996) Performing Rites: the Value of Popular Music.
Nota: Simon Frith é jornalista e professor da Universidade de Edimburgo, Escócia. Com formação em filosofia e sociologia, a sua principal área de estudo é a da música popular e da cultura musical britânica. Iniciou a sua carreira de jornalista na revista britânica British Rock e tornou-se crítico de rock no jornal Sunday Times. Está neste momento a concluir um projecto de investigação sobre a história e a prática da promoção da música ao vivo no contexto britânico.
Este post inclui o vídeo de "Resist Stance", novo tema dos Bad Religion, interpretado recentemente ao vivo.
Tal como o A Crack in the Cloud publicitou, num post de 6 de Março, os Bad Religion anunciaram há uns meses que iriam disponibilizar gratuitamente o álbum 30 Years Live, gravado durante a última tournée ("House of Blues") na Califórnia. Com este gesto a banda quis agradecer a fidelidade dos fãs que os têm acompanhado ao longo destes 30 anos. Para tal os interessados apenas tinham de se registar na mailing list dos Bad Religion e esperar pela palavra-passe que dava acesso ao download gratuito...agendado para dia 18 de Maio...
O assunto já estava há muito esquecido, e foi com alguma surpresa que ontem, 18 de Maio, recebi um email dos Bad Religion com a dita password, acompanhada da seguinte mensagem:
"We want to say thanks for signing up, thanks for coming out to the shows, thanks for all the great times, thank you for being a part of all of this! We have had so much fun with this 30 year anniversary, and as Greg says, “without all of you, without a vibrant scene to be a part of, there really wouldn’t be very much to celebrate”. Here’s to another 30… minutes (actually it’s a little over 40)!!! Enjoy, Greg, Greg, Brett, Brian, Brooks and Jay"
Operação de marketing? Com certeza que sim, mas não podemos deixar de registar com apreço este gesto, a postura "low profile" desta banda, assim como a disponibilização gratuita de um álbum com 17 faixas, de uma qualidade sonora irrepreensível (digital), e com dois temas novos que farão parte do próximo trabalho dos Bad Religion, com lançamento previsto para o Outono, nomeadamente "Resist Stance" e "Won't Somebody".
Aqui fica a lista dos temas de "30 Years Live" e o vídeo de "Resist Stance" que nos interpela a todos "Take a stand!"
1. Fuck Armageddon, This is Hell
2. Dearly Beloved 3. Suffer 4. Man With A Mission 5. New Dark Ages 6. Germs of Perfection 7. Marked 8. A Walk 9. Flat Earth Society 10. Resist Stance 11. American Jesus 12. Social Suicide 13. Atheist Peace 14. Tomorrow 15. Won't Somebody 16. Los Angeles Is Burning 17. We're Only Gonna Die
A morte prematura do letrista e vocalista dos Elf, Rainbow, Black Sabbath, Dio e Heaven & Hell (que deveriam actuar na próxima edição do Optimus Alive) está a merecer uma ampla cobertura dos media.
Não é de estranhar. A Encyclopedia of Heavy Metal considera-o o melhor vocalista de Heavy Metal do mundo e coloca o álbum Heaven & Hell (1980) dos Black Sabbath no nº1 do top de "álbuns essenciais de metal". A música dos Rainbow "Kill the King" (ver vídeo abaixo) é ainda classificada por esta publicação no 4º lugar do ranking das "most awesome songs".
A título de curiosidade recorde-se que foi Dio que introduziu e popularizou no universo musical (do hard rock/heavy metal) o símbolo designado em italiano como malocchio, que originalmente significava livrar-se de um mau olhado ou, pelo contrário, lançá-lo sobre alguém. Hoje em dia, o gesto ("devil horns") tem o significado internacional de "ready to rock" (vide um breve glossário do heavy metal disponível aqui).
Ficam alguns excertos e links de artigos sobre a vida e as realizações do músico americano.
"(...) he had one of the definitive hard rock voices, a rich baritone that could rise through the octaves. He didn't blur or spit his words, so you could hear everything he sang, which was crucial to his appeal.(...)"
"With a whole generation of rock stars from my youth now entering old age, metal is going to have get used to its heroes passing not in plane crashes, or from the effects of partying, or in other rock'n'roll ways. They are going to die of the things that kill ordinary people, a reminder that the swords and sorcery are not real, and that beneath the leather and the hair lurk real people who have sometimes, like Dio, done remarkable things."
"He possessed one of the greatest voices in all of heavy metal, and had a heart to match it," said Twisted Sister guitarist Jay Jay French, whose band had toured with Dio and was to do so again this summer at European rock festivals. "He was the nicest, classiest person you would ever want to meet."
"When I first saw you in ELF, opening for DEEP PURPLE in 1975, I was completely blown away by the power in your voice, your presence on stage, your confidence, and the ease with which you seemed to connect to 6,000 Danish people and one starry-eyed 11-year-old, most of whom were not familiar with ELF's music. (...)"In the fall of 1976, when you played your first show in Copenhagen (Rainbow), I was literally in the front row and the couple of times we made eye contact you made me feel like the most important person in the world."
"Corey Taylor of Slipknot and Stone Sour called Dio "one of the strongest, purist and consistent singers of all time. Ronnie sang like he lived -- all out, from the heart, with so much honesty and joy. He was a great man with a smile and a handshake for fans and peers alike. He spoke his mind and stood his ground for decades. I will miss him dearly."
"Se dependesse do governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), Brasília estaria de luto nesta segunda-feira após a morte do ídolo do Heavy Metal Ronnie James Dio, ex-vocalista da banda Black Sabbath. Pelo Twitter, Rosso disse que só não decretou o luto oficial por impedimentos legais. (...) Rosso, além de governar o DF, toca guitarra, baixo e teclado".
Este post inclui um vídeo de "Two Pints of Lager and a Packet of Crisps" dos Splongenessabounds, e o excerto de um episódio da comédia britânica com o mesmo nome...
O blogue de música do jornal britânico The Guardian dedica quase semanalmente um post à exploração musical das mais diversas temáticas, das mais "sérias" às mais comezinhas: política, meio ambiente, amizade, ressacas, letras inintelingíveis, etc.
O post, chamado "Readers recommend", tem como principal objectivo promover a participação dos leitores, que a partir dos seus encontros pessoais com a música, nas mais variadas situações da sua vida quotidiana, indicam temas, dos mais variados géneros musicais, associados à temática proposta.
No último post a temática foi "Músicas sobre Bares e Pubs", e sem surpresas, uma das indicadas foi a minimalista "Two Pints of Lager and a Packet of Crisps Please" dos Splongenessabounds, que atingiu o 7º lugar do top britânico de singles em 1980...
O título da música serviu de inspiração a uma comédia britânica com o mesmo nome (sem please), da autoria de Susan Nickson, que estreou em 2001, e que gira há volta das vidas de um grupo de jovens...e inevitavelmente dos seus encontros no pub.
Já não é novo mas não deixa de ser interessante, por exemplificar como a música promove e facilita o contacto intercultural num mundo que apesar de globalizado continua a definir-se (e ainda bem) pela diversidade...interessante também o modo como Eddy apropria e adapta a música original ao seu próprio contexto cultural.
Um agradecimento ao Carlos A. que enviou o link.
"Prova de que a musica ultrapassa fronteiras (continentes, oceanos, e realidades...) Eddy, de 16 anos, vive numa vila na fronteira da floresta tropical em Madagascar. Ouviu Tara Perdida duas vezes, e deu-nos este presente..." (simplyjoana, 18 de Maio de 2008, Youtube)
Este post inclui o vídeo de "Reload" dos Ho-Chi-Minh.
(Foto: http://www.myspace.com/hochiminh)
Após algum suspense relativamente à identidade do novo guitarrista, os Sordid Sight, banda bejense de hardcore/metal, confirmaram há alguns dias, no seu site do myspace, de que se trata de António Aresta, também membro dos Ho-Chi-Minh.
Os Sordid Sight são compostos por Marco (voz), Fábio (guitarra), Jorge (bateria) e Fava (baixo), o inconfundível baterista dos Ventas de Exterko, banda punk de A-do -Pinto (Beja) que foi objecto do post anterior.
A estreia de Aresta nos Sordid Sight está já agendada para o próximo dia 11 de Junho, em Grândola, no âmbito da 5ª edição do Festival Metal GDL 2010 (10 a 12 de Junho), no qual têm já presença confirmada 25 bandas.
Para visitar o site do Festival no myspace clicar aqui.
Muitos são aqueles que aguardam igualmente, e já com alguma ansiedade, o regresso dos Ho-Chi-Minh aos palcos...
Fica por isso, enquanto esperamos, a memória de concertos passados, ilustrada por este vídeo de "Reload"...o título não podia ser mais apropriado...reload guys, reload!
Os Ventas de Exterko, banda punk/hardcore alentejana, acabaram de disponibilizar no seu blog, para download gratuito, o seu EP homónimo de 2009, que contém 6 excelentes malhas, entre elas "Ergue a tua voz" (recentemente adicionada à playlist do myspace) e "Caos em Portugal". Para visitar o blog da banda e/ou descarregar este EP basta clicar aqui.
A agenda de 2010 da banda de A-do-Pinto tem sido, e promete continuar, bastante animada, com actuações em vários pontos do país: depois da presença (recente) no Imune Fest (Setúbal), os Ventas de Exterko têm presença marcada no próximo dia 15 de Maio em Fonte da Telha (Pestinha Bar) e no dia 2 de Junho na Marinha Grande (no âmbito do evento Metal Gate) (para mais informações, basta espreitar o site dos Ventas, aqui).
(Tara Perdida no Festival da Juventude de Mértola, em 8 de Maio de 2010)
O A Crack in the Cloud muito agradece a atenção do autor da fotografia, Jorge Branco, da Câmara Municipal de Mértola.
Fica o registo de mais uma excelente prestação dos Tara Perdida, não obstante os desafios e dificuldades colocados pelos problemas de som, em grande medida resultantes da alteração in extremis do local do espectáculo (inicialmente previsto para o castelo de Mértola), devido às condições metereológicas adversas.
Igualmente digno de menção o esforço (devidamente reconhecido e elogiado pelo vocalista João Ribas) do staff da autarquia e de voluntários na tarefa quase hercúlea de deslocar o palco e diverso equipamento (em verdadeiro tempo recorde) do castelo para a tenda onde o espectáculo acabou por ter lugar.
Não obstante estes percalços, a festa aconteceu como é habitual nos concertos desta banda, com casa cheia e a participação incondicional de fãs de diversas faixas etárias, que sabem as letras da primeira à última palavra, e que interagem de forma ímpar com os músicos, e particularmente com o seu frontman, João Ribas, com quem teimam em 'conversar', mesmo sabendo que ele não os consegue ouvir: "Ribas, és o maior", "Oh Ribas, canta lá agora..." ou, como ouvimos a um fã maduro, "Ribas, conheço-te desde os Ku de Judas".
Mais uma vez com um grafismo muito apelativo, já está disponível o número de Maio da revista OUTSIDER, uma publicação mensal, de cariz D.I.Y., prestes a comemorar 2 anos de existência, e com um papel importante e louvável na divulgação de projectos/bandas portuguesas e internacionais principalmente (mas não exclusivamente) de punk rock/hardcore.
A OUTSIDER encontra-se à venda, por um preço quase simbólico, em Lisboa nos seguintes locais (Bana Skateshop Carcavelos, Sample Skateshop Baixa, Clockwork, Baixa, Bad Bones, Bairro Alto) e também em BEJA na Associação de Estudantes da ESEB (Escola Superior de Educação).
Em alternativa, é também possível assinar a revista e recebê-la confortavelmente em casa todos os meses. Mais pormenores sobre a assinatura da revista estão disponíveis no site da OUTSIDER no myspace, em
De destacar ainda o facto da equipa da Outsider ser igualmente responsável pela organização de um festival homónimo, o Festival Outsider, cuja 3ª edição (comemorativa do segundo aniversário da revista) está já agendada para os dias 10 e 19 de Junho, na Casa de Lafões (Lisboa), com a presença confirmada de Feios Porcos e Maus, Barafunda Total e Mordaça (dia 10) e de Desobediência Total, Albert Fish, Kamones e Crise Total (dia 19).
Fica o outline deste número 23 da OUTSIDER, avançado ao A Crack in the Cloud pela redacção:
"Entrevista - Punk Sinatra
"Para mim, Punk Sinatra tem os quatro elementos necessários: Força, velocidade, groove e mensagem."
Reportagem - Tara Perdida na Voz do Operário
" 'Onde é Ksto Vai Parar' surpreende tudo e todos, a roda abre, o publico afina as vozes (ou pelo menos tenta) e o entusiasmo e rebuliço são tudo o que conta mostrando que este tema é uma óptima alternativa para abrir actuações da banda, à já habitual 'Cidade'."
Reportagem - Sonic Youth no Coliseu dos Recreios " Na guitarra, Kim pôs qualquer Madona num chinelo, ao subir ao palco em mini-saia de cabedal num estilo rock clássico como se os seus 57 anos anos não se fizessem sentir. "
Crítica - GBH, Perfume and Piss
" 'Unique' dá abertura ao álbum, e entra logo a abrir, sem escrúpulos, batidas rápidas e guitarradas completamente britânicas, vocalizações puramente rockeiras e rasgadas."
Crítica - Miss Lava, Blues For The Dangerous Miles
" Assim que carregamos no play somos levados para uma dimensão electrificante com 'Don't Tell A Soul', uma voz energética e quase gritada, o que com a junção de riffs graves e distorcidos é a cereja no topo do bolo. "
Este post inclui os vídeos de "The Atrocity Exhibition" dos Joy Division e de "Novelos da Paixão, dos Mão Morta.
Billy, talentoso DJ de punk rock e autor do ímpar blogBilly-News acaba de publicar uma excelente entrevista feita a Adolfo Luxúria Canibal, o carismático frontman dos Mão Morta, a propósito do mais recente trabalho da banda bracarense, Pesadelo em Peluche, já mencionado aqui no A Crack in the Cloud.
Para ler a entrevista na íntegra no seu contexto original basta clicar aqui.
Pesadelo em Peluche explora algumas das temáticas das shortstories ou "condensed novels" que compõem o livro/romance experimental The Atrocity Exhibition (1970) do autor britânico J.G. Ballard, falecido em 2009.
(J.G.Ballard, Foto do jornal britânico The Guardian,
J.G. Ballard descrevia-se como um "autor imaginativo, com grandes afinidades com os surrealistas". A visão distópica da vida moderna e os efeitos - individuais, psicológicos e comportamentais - da vivência nas sociedades 'hipertecnológicas' e hipermediatizadas contemporâneas dominam o pensamento e a escrita de Ballard e são explorados no livro em questão.
Talvez os seus livros mais conhecidos sejam Crash (1973) e Empire of the Sun (1984), adaptados cinematograficamente por David Cronenberg (1996) e Steven Spielberg (1987), respectivamente.
Apesar de nunca, até agora, o livro ter sido alvo do tratamento substancial e aprofundado que os Mão Morta fazem dele em Pesadelo em Peluche, The Atrocity Exhibition inspirou, por exemplo, a música homónima dos Joy Division (1980, do álbum Closer), o título do álbum ao vivo do artista japonês Merzbow/Masami Akita, Great American Nude-Crash for Hi-Fi, e duas músicas do álbum Sacrifice (1994) de Gary Numan.
Ficam os vídeos de "The Atrocity Exhibition" dos Joy Division (ao vivo em Londres, 1979) e de "Novelos da Paixão", single de avanço de Pesadelo em Peluche dos Mão Morta.
Este post inclui algumas fotos do Street War Fest 5 (dia 1) da autoria de JMS.
Na sequência do último post, vou deter-me mais um pouco no livro de Seabrook, que aborda de forma brilhante alguns dos problemas da (nossa) sociedade contemporânea, nomeadamente nos âmbitos do trabalho e do lazer.
Seabrook coloca o dedo na ferida: no mundo do hipercapitalismo, em que a maximização do lucro implica a minimização dos custos de produção através, por exemplo, da automação ou da deslocalização, não há empregos para todos. Ou, visto de outro prisma, não é necessário que todos trabalhem, nem que se trabalhe tanto.
Por outro lado, há uma série de trabalhos que não são remunerados, tais como a gestão doméstica ou os cuidados de dependentes (crianças, deficientes ou idosos). Seabrook (e outros autores, como R. Sennett) defende o reconhecimento deste tipo de tarefas como emprego e ainda a criação de uma espécie de rendimento mínimo para todos os membros da sociedade (basic income).
Sennett defende também a diminuição geral do número de horas de trabalho/semana, assim como a partilha de empregos. Deste modo, as pessoas poderiam ter mais tempo de lazer, que poderiam ocupar, por exemplo, com o seu desenvolvimento pessoal. Estamos decerto muito longe deste cenário social, cuja concretização exigirá sem dúvida um grande esforço colectivo e mudança de mentalidades.
Temos, em vez disso, uma sociedade em que a falência (óbvia) do sistema continuará a não ser reconhecida (por ser beneficiador do grande capital), em que aqueles que ainda têm emprego são cada vez mais sobrecarregados, explorados, 'esmifrados' até ao limite da sua sanidade física e mental (atentemos nas doenças e suicídios com origem "profissional"), enquanto que um número que não pára de crescer está desempregado, com um "tempo livre" forçado, indesejado e muitas vezes destrutivo.
Um tempo livre que não é de lazer, dado que nas sociedades ditas democráticas e desenvolvidas o lazer (quer seja ocupado com a educação ou o entretenimento) tem sido sistematicamente privatizado, é pago, e logo, apenas acessível a alguns (muito menos a quem foi privado do seu meio de subsistência).
Basta que pensemos nas chamadas indústrias culturais : televisão (pública vs cabo), cinema, concertos, cinema, livros, filmes, música (CDs/DVDs), etc., até mesmo o acesso à Internet, hoje sem dúvida o mais extraordinário meio de informação e comunicação. Que percentagem da população tem acesso à generalidade destes bens culturais...e com que 'abundância'?
E é por isso que vale a pena estar atento(a) à cada vez mais reduzida oferta cultural/de lazer gratuita existente, e aproveitar as iniciativas/os equipamentos culturais de cariz autárquico ou associativo, como as bibliotecas, as oficinas, ou os inúmeros Festivais Jovens que estão a ocorrer um pouco por todo o país.
E é aqui que (finalmente) chegamos ao Street War Fest, um evento musical anual já na sua 5ª edição, por onde passaram este ano mais de uma dezena de bandas do circuito alternativo nacional. Nos nossos tempos 'hipercapitalizados' em que (quase) tudo - incluindo o lazer - é pago e onde poucos aceitam trabalhar sem retribuição financeira, este evento destaca-se, desde logo, pelo facto de ser gratuito e totalmente DIY, ou seja, organizado por um conjunto de pessoas que oferecem o seu tempo e o seu trabalho para a sua realização (nos tempos "hiperindividualistas" em que vivemos gestos como estes não podem deixar de ser notados e devidamente apreciados).
Este evento destacou-se igualmente pela qualidade e reputação dos músicos que nele participaram e que, pela arte e não pelo dinheiro, insistem e não desistem de conjugar (decerto com esforço e boa vontade) as suas vidas profissionais e pessoais paralelas com os seus projectos musicais totalmente DIY (ou seja, assumindo e controlando todos os estágios do processo, desde a criação à divulgação e distribuição).
Destacou-se, para mim, pessoalmente, e especialmente na data histórica que se celebrava (1 de Maio), pela participação de bandas que privilegiam a mensagem, e que abordam criticamente temáticas da vivência contemporânea/da actualidade social, económica e política, continuando assim a tradição da música de intervenção, tão importante nos processos da democratização nacional. Refiro-me particularmente a Punk Sinatra, Gazua e Dalai Lume, três dos projectos musicais mais interessantes e mobilizadores da actualidade.
Ficam por isso algumas fotos destas três actuações, com algumas notas breves e os links para os websites das bandas no myspace, onde estão disponíveis músicas, vídeos e datas das próximas actuações.
A prestação dos Punk Sinatra foi verdadeiramente frenética, com um Almendra imparável e talvez ainda mais expressivo e exuberante do que em Peste & Sida...
A prestação dos Dalai Lume inflamou (quase literalmente) a plateia, que correspondeu incondicionalmente.
De realçar a expressividade dramática que caracteriza o vocalista Zorb, aqui acompanhado pelo músico Freddy Locks.
A subida ao palco de João Ribas (Tara Perdida), a convite de Zorb, para colaborar na interpretação de dois temas, foi também um dos pontos altos da prestação dos Dalai Lume.
A música ambiente ao longo da tarde e noite esteve a cargo do inconfundível DJ Billy, com uma selecção muito abrangente, que incluiu temas punk clássicos e incontornáveis, assim como produção recente e pouco conhecida, tanto de bandas portuguesas como internacionais.
Este post inclui o vídeo de "Cidade Veneno" dos Peste & Sida.
O fecho da esmagadora maioria das superfícies comerciais ontem, 1 de Maio, feriado nacional, Dia Internacional do Trabalhador, e do Street War Fest 5, um evento musical gratuito, na Academia Recreativa de Linda-a-Velha, motivaram a reflexão que se segue e que, pela sua extensão, será dividida em dois posts, um mais ‘teórico’ sobre o dia 1 de Maio e sobre a individualização e comercialização do lazer, e outro mais ‘ligeiro’, com algumas notas e fotos do Street War Fest.
Tal como vários analistas sociais/culturais contemporâneos têm enfatizado, uma das características do “hipercapitalismo” (Lipovetski e Serroy 2008) actual é a transformação de quase todas as esferas das nossas existências em momentos e produtos de consumo. As horas de sono e de trabalho (para aqueles que ainda têm emprego…) são hoje quase o último reduto não invadido pelo capitalismo alienante, predador e destrutivo.
Num livro fascinante e muito esclarecedor, The Leisure Society (A Sociedade do Lazer), Jeremy Seabrook analisa a tomada do lazer pelo mercantilismo (hiper)capitalista (uma redundância, eu sei), de tal modo que a inactividade – o não se fazer nada – se tornou quase uma blasfémia.
De igual modo, os ‘antigos’ e tradicionais passatempos, especialmente aqueles que não implicam consumo, têm sido ideológica e persistentemente descredibilizados, rotulados de antiquados ou desinteressantes( muitos já não existem mesmo).
Que percentagem da população vai hoje para os jardins ou parques públicos nos seus tempos livres, por exemplo, em detrimento dos famigerados centros ou “guetos” comerciais (como acertadamente lhes chamam os Peste & Sida)?
Mesmo certos hobbies, como por exemplo os desportos, foram institucionalizados e ‘profissionalizados’ (ou melhor, comoditizados), de tal forma que hoje qualquer prática desportiva implica o dispêndio de uma quantia variável de dinheiro, quer na compra da indumentária da moda (que está sempre a mudar), quer da ‘tecnologia’ mais recente e completa: a título de exemplo veja-se o aumento do espaço dedicado a artigos de caça e pesca nos hipermercados ou do número de lojas especializadas nas mais variadas áreas do lazer (não apenas desportivo).
Outra tendência visível é a da individualização do lazer: enquanto que até há algumas décadas atrás os tempos livres eram ocupados com actividades colectivas, hoje eles são preenchidos com actividades de consumo, onde a companhia se torna uma distracção incómoda do objectivo principal: comprar algo supérfluo ilusoriamente considerado imprescindível.
E por isso mesmo, o Dia do Trabalhador, anteriormente celebrado (mais) massivamente na rua, colectivamente, e com um cariz eminentemente político, foi ontem para muita gente motivo de grande desorientação, perante a impossibilidade do consumo. Como privação de uma qualquer dependência, ela foi prontamente compensada logo que possível, ou seja, hoje, com uma acorrência sôfrega e doentia ao templo de consumo mais próximo.
Raymond Williams, um grande teórico marxista britânico, diz que “a história nos ensina a maior parte do passado conhecível e a do futuro imaginável”. Talvez valha a pena, mesmo já findo mais este dia histórico, lembrar a origem do Dia Internacional do Trabalhador: nomeadamente o chamado Massacre de Haymarket, em Chicago, 1886, quando a polícia disparou e matou vários trabalhadores que participavam numa greve geral em defesa das 8 horas de trabalho por dia! É a este grupo de homens comuns, cujos nomes desconhecemos, porque deles “não reza a história”, que devemos algumas das nossas preciosas horas de lazer diário!
Numa altura em que muitos trabalhadores são ‘obrigados’ a trabalhar mais do que as 8 horas diárias, muitas vezes sem pausas, e sem a devida remuneração, sob a ameaça de perderem o posto de trabalho “que muitos queriam ter”, talvez valha a pena retirar algumas lições da história que nos permitam imaginar (e pensar em lutar conjuntamente por) um futuro melhor para a maioria.
Continua...
(Nota: Para ouvir e ver "Cidade Veneno" escolher a faixa 5 da lista que surge no menu "tracks" do vídeo deste concerto dos Peste & Sida, realizado no In Live Caffé - Moita).