Foi com lotação esgotada e um espectáculo verdadeiramente frenético e memorável que os Tara Perdida celebraram no passado dia 16 de Abril o 15º aniversário da banda e confirmaram a sua posição proeminente no panorama musical nacional.
Colaboradores, amigos e fãs de várias gerações encheram a emblemática sala da Voz do Operário para festejar este aniversário e matar saudades da banda, neste que foi também o primeiro concerto da rentrée de 2010.
O espectáculo teve início por volta das 22.30h, como que em resposta à chamada da assistência que, a postos numa sala apinhada e acalorada, começara a entoar o refrão da popular “Batata Frita”.
Durante a hora e meia seguinte e os cerca de 23 temas interpretados, os Tara Perdida demonstraram que, volvidos 15 anos de estúdio, estrada, e 5 álbuns de originais, são de facto uma máquina muito bem oleada, que a mudança de baterista (saída de Rodrigo, reentrada de Kystos) não veio emperrar.
Tal como o ambiente festivo e entusiástico que dominava o recinto fazia antever, o sucesso do concerto esteve garantido desde o primeiro minuto, com uma entrega massiva e incondicional do público, corroborando mais uma vez a grande empatia e proximidade que caracterizam a relação dos Tara Perdida com os seus fãs.
Os braços estiveram permanentemente no ar, as vozes gritaram refrões e entoaram letras da primeira à última palavra, o mosh, o stage dive e o circle pit foram manobras contínuas. Alguns dos mais intrépidos atiraram-se mesmo das varandas do piso superior, sendo solidariamente aparados à chegada, num ambiente que primou por um espírito geral de alegria e companheirismo.
A escritora e activista Marianne Williamson define o carisma como “uma centelha que as pessoas possuem e que o dinheiro não pode comprar. Uma energia invisível com resultados visíveis”. Não obstante o inegável mérito do desempenho colectivo, é ao extraordinário carisma do seu quase mítico frontman, João Ribas, que se deve em grande medida o sucesso quase garantido das performances desta banda.
Detentor de uma presença marcante, inesperadamente acompanhada de uma rara simplicidade, e com um curriculum musical e experiência de palco que lhe podiam merecidamente granjear um doutoramento honoris causa, Ribas esteve com o público e teve o público consigo do princípio ao fim do espectáculo. A dedicação do concerto à sua mãe (Constança Ribas) motivou o aplauso geral e as suas interpelações recorrentes ao longo do espectáculo, quer para acolher o ‘novo’ baterista Kystos, elogiar a participação incondicional da plateia, ou para confirmar a sua plena satisfação, foram calorosamente acolhidas e correspondidas.
Neste ambiente de admirável sintonia, e a um ritmo acelerado e incessante, o tempo pareceu literalmente voar, e o fim chegou com demasiada rapidez, após 18 temas retirados dos 5 trabalhos da banda, dos quais se destacaram os incontornáveis “Zombies”, “Mundo Canibal”, “Tara Perdida”, “Lambe-Botas”, ou “Sentimento Ingénuo” (entre muitos outros).
Depois de uma curtíssima pausa a banda regressou para mais cinco temas fortes de trabalhos mais antigos, nomeadamente “Vida É Só Uma”, “30 Dias”, “Feia”, “Desalinhado” e “Nasci Hoje”, este último interpretado num clima de grande euforia e comoção, depois de Ribas ter agradecido a todo um conjunto de pessoas que acompanharam a banda ao longo destes 15 anos. Entre eles estiveram a antiga manager Dina Krasmann, os membros passados da banda (Orélio, Cró e Rodrigo), o produtor Cajó, os Xutos e Pontapés, e o roadie Carlitos, sem esquecer os amigos e os fãs, a quem Ribas emocionadamente se dirigiu com um “obrigado, meus amigos e minhas amigas”.
E foi em verdadeiro clima de festa que terminou este concerto comemorativo, com alguns membros da banda a permanecerem em palco ainda durante alguns minutos rodeados de fãs, e muitas caras conhecidas por entre o público, tais como João Pedro Almendra (Peste & Sida/Punk Sinatra), Jonhie (Simbiose) ou Jel (Homens da Luta/Kalashnikov).
(João Pedro Almendra a cumprimentar Jel, que como habitualmente não passou despercebido)
Menos de 24 horas depois, os Tara Perdida regressariam à estrada, rumo ao Arruda Rocks 2010 (Arruda dos Vinhos) para o 2º concerto de uma época que promete ser bastante preenchida, com vários espectáculos já agendados para os próximos meses em diversos pontos do país.
Fica o alinhamento deste concerto memorável, que constituirá possivelmente o único (e quase inevitável) ponto (e pomo) de discórdia dos participantes, sendo certo que muitos dos fãs mais maduros teriam preferido um regresso mais marcado às origens, com uma inclusão mais expressiva de temas fortes dos primeiros dois álbuns, particularmente de Só Não Vê Quem Não Quer, claramente sub-representado.
Este facto, e a escolha predominante de músicas do trabalho mais recente, Nada a Esconder (2008), têm a meu ver de ser entendidos no contexto da (legítima) evolução da música e da carreira dos Tara Perdida, no sentido de registos mais melódicos e da crescente institucionalização da banda que, como o concerto provou, continua a agradar simultaneamente a um público muito alargado e às camadas mais jovens.
Setlist
1. Onde É Kisto Vai Parar
2. Quanto Mais Eu Grito
3. Criar Soluções
4. Sentimento Ingénuo
5. Realidade
6. Cidade
7. Pernas Pr’ó Ar
8. Tara Perdida
9. Mundo Canibal
10. Zombies
11. Batata Frita
12. Memórias
13. Lambe-Botas
14. O Nome da Sombra
15. Podia Ser Doutor
16. Demente
17. Acreditar
18. Fizeram-se Amigos
Encore:
1. Vida É Só Uma
2. 30 Dias
3. Feia
4. Desalinhado
5. Nasci Hoje