26 março 2010

A ascensão e queda do Oi! e o concerto mais violento da história britânica

Este post contém um vídeo de "Oi Oi Oi" dos Cockney Rejects ao vivo no Rebellion Festival (2007)


O jornalista musical Alexis Petridis é o autor de um artigo com o sugestivo título “Misunderstood or hateful: Oi!’s rise and fall” (“Incompreendido ou detestável: a ascensão e queda do Oi!”), recentemente publicado no jornal britânico The Guardian (e disponível pala leitura na íntegra aqui).

O artigo, bastante interessante e desenvolvido, aborda a história da formação cultural Oi!, termo forjado no fim da década de 1970 por Garry Bushell, agente dos Cockney Rejects e jornalista da revista Sounds, para descrever um conjunto de bandas punk de 3ª geração e cariz operário (como os Rejects, os Angelic Upstarts ou os Splondgenessabounds).

Petridis explora os sentimentos e interpretações contraditórias deste subtipo musical, rotulado por alguns ainda hoje como “o meio-irmão néscio do punk” e sinónimo de vandalismo, racismo e hooliganismo, considerado por outros como “the real thing”, “o som genuíno das ruas da Grã-Bretanha do final da década de 70”.

A “má fama” do Oi! teve origem na associação directa da música dos Cockney Rejects ao futebol: fãs acérrimos do clube londrino West Ham, o objectivo da sua música era, de acordo com o vocalista Jeff "Stinky" Turner, o de dar visibilidade mediática ao clube. Os Rejects estavam não só ligados à claque do clube, como apareceram no programa televisivo Top of the Pops com T-shirts do West Ham, e levaram aos tops musicais uma versão punk de “I’m Forever Blowing Bubbles”, hino do clube.

Esta associação comprometeu decisivamente as actuações da banda ao vivo, que se transformaram em verdadeiros campos de batalha de claques rivais, ditando a queda da banda e o descrédito do Oi!.

Neste contexto, Petridis relembra aquele que terá sido certamente o concerto mais violento da história britânica, esquecido – ou teimosamente ignorado – pela crónica ‘oficial’ do rock: nomeadamente, o que os Cockney Rejects deram no Cedar Club em Birmigham, em 1980. O concerto, que o vocalista dos Rejects descreve como uma “carnificina”, acabou praticamente com a carreira da banda ao vivo.

“There was a lot of people cut and hurt, I got, my brother [Rejects’ guitarist Micky Geggus] really got done bad, with an ashtray, the gear was decimated, there was people lying around on the floor. Carnage”.


 Na sequência do concerto Micky Geggus foi indiciado criminalmente. Vários concertos subsequentes, por exemplo em Liverpool ou em Birmigham, tiveram de ser abortados pela polícia e os Rejects escoltados no regresso a casa para impedir que fossem atacados por fãs de clubes futebolísticos rivais.

Contudo, não foram apenas estes incidentes que ditaram o declínio dos Rejects e do Oi!. Segundo Petridis, a principal causa foi a  apropriação política da música e da cultura populares pela extrema-direita britânica, para tentar contrariar a sua popularidade decrescente, consequência da grave crise social e económica e da eleição de Margaret Thatcher. 


Com este objectivo, o partido de extrema-direita National Front infiltrava membros e agitadores skinhead em concertos e jogos de futebol. Bandas populares como os Sham 69, os Madness, os Specials e os próprios Rejects viram os seus concertos invadidos por skinheads nazis que atacavam membros (punk) do público.

Bushell, ex-manager dos Cockney Rejects, desmente por completo que a banda tivesse quaisquer simpatias nazis, e refere mesmo as tentativas da banda para se defender de tais acusações e libertar o Oi! da associação directa ao racismo, amplamente disseminada pelos media nacionais. Esta impossibilidade ditou a morte do movimento Oi! e o desaire dos Rejects que, segundo as palavras do seu vocalista, passaram dos écrãs televisivos para a fila do desemprego em apenas 18 meses.

O Oi! viria a renascer nos EUA sob a nova designação de street punk e com bandas como os Rancid.

Garry Bushell relembra o episódio em que o vocalista e guitarrista dos Rancid lhe confessou a influência que o Oi! desempenhara na sua vida:

“I had Lars Freidricksen (sic) of Rancid come in and sit in the pub round the corner from my house, welling up, telling me if it wasn’t for Oi! he might have killed himself as a teenager (…). I thought, 'Fuck me, it’s really had an effect on these people'”.

Depois dos habituais altos e baixos e de várias alterações à formação original, os Cockney Rejects continuam activos.

1 comentário:

  1. Opa então? Isto é uma banda fascista pah, usam a union jack como símbolo. Um patriota é um idiota!
    Nem Deus nem amo, nem pátria nem sangue.

    Bimbu @

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