(Foto: http://www.nomeanswhatever.com/)
O número de blogs e websites dedicados à música (para já não falar de um sem número de outros assuntos de âmbito cultural) que existem, e que a Internet permitiu, é um tópico que se prestava a uma longa e decerto muito interessante reflexão.
Não é esse o objectivo deste post. Mas é um facto que existem muitos excelentes blogs e websites musicais, e o Ponto Alternativo é decerto um exemplo disso a nível nacional.
Entre as publicações recentes - e que são muitas - destacamos uma que pode ter passado despercebida, e que merece uma leitura atenta: trata-se de uma deliciosa review do concerto dos canadianos NoMeansNo da passada semana (13/04) em Lisboa (Galeria Zé dos Bois), da autoria de António Matos Silva. Para ler a review na íntegra clicar aqui.
Trata-se de um texto excelente, que contém a nosso ver todos os ingredientes de uma boa review: é um relato pensado, muito bem redigido, informado, que evita os tecnicismos entendiantes e o distanciamento que normalmente resulta da indiferença relativamente à música ou aos intérpretes em questão.
É um registo entusiasmado, informal, original e irreverente, de alguém que nutre um apreço visível pela banda e que viveu intensamente o espectáculo - como o espectáculo merece ser vivido. É um relato extremamente visual, mesmo impressionista, que nos dá a sensação de termos estado lá - ou pena de não termos estado lá - ou a satisfação de, através desta review, podermos ter esta ideia vívida do que se passou, e de como foi ter estado lá. E para tal não precisamos de seguir o conselho do autor:
"(...) se quiserem sentir o que sentiu a partir dos vinte minutos de concerto e ainda se poupam do mosh. Vão à vossa casa de banho, liguem o chuveiro do vosso polibã (ou banheira ou jacuzzi), deixem a água aquecer e enfiem-se ali debaixo durante dez a quinze minutos. Ah, façam-no completamente vestidos. Depois saiam à rua e tentem sacar um beijo a uma gaja gira."
Vale mesmo a pena ler.
Ficam alguns excertos ilustrativos:
"Alimentámos durante trinta anos a esperança de ver estas lendas que, vá-se lá saber porquê, ficaram na sombra de Ramones, Motorhead e outros que tais sem lhes dever pitada de talento."
(...)
"É que os NoMeansNo são uma banda boa, uma banda a sério, que conseguem ser artsy sem soarem fartsy (que é como quem diz que têm técnica e estrutura, mas não são pretensiosos como eu, que usei esta expressão)."
(...)
"Ouviram-se três partes distintas: levámos na cara com punk de primeira ordem, rock matemático nos seus primórdios e estilhaços noise que se cravaram que nem estilhaços no nosso corpo e ouvidos."
(...)
"Rock sem merdas e sem poupanças na altura de explodir (ou rebentar?), que em certas alturas, com a polvorosa que ia no Aquário da ZDB parecia que ia implodir com toda a gente."
(...)
"Quem não esteve lá, nunca vai ter ideia de como foi. E estas suadas palavras, assumo-o aqui e agora, são uma pálida reflexão do que ali se viu: a perfeita simbiose entre três músicos, o equilíbrio perfeito entre instrumentos, vozes e som."
(Autor: António Matos Silva, em O Ponto Alternativo - 14 Abril 2011)
Sem comentários:
Enviar um comentário