09 julho 2010

Divinais Faith No More


Mike Patton (Faith No More)

Já em posts anteriores exprimi a minha opinião sobre os festivais, e sobre a (hiper)comodificação da cultura e da música para as 'massas'. Por convicção, e também devido a uma ligeira agorafobia que se tem vindo  a acentuar, decidi não ir a nenhum dos 'grandes' festivais de verão, por muito imperdíveis que fossem em termos de cartaz. E o primeiro dia do Alive era para mim particularmente apelativo, principalmente (mas não só) devido aos cabeças de cartaz, Faith No More...

Foi por isso com um misto de sensações contraditórias, entre a incredulidade, alegria, e revolta (mais uma vez) perante  a privatização da cultura, que assisti, extasiada, à brilhante actuação desta banda transmitida em directo pelo canal de TV privado SIC Radical no conforto da minha sala ...

Dei por mim às voltas com a ideia postulada pelo sociólogo/filósofo/teórico cultural Jean Baudrillard, da qual sempre discordei (pelo cariz alienatório que encerra), de que na sociedade hipermediatizada de hoje o virtual, a representação do real (o simulacro) é preferida/sobrepõe-se ao próprio real... 

Ontem à noite, contudo, não pude deixar de comparar a experiência real do Alive 2009, com o pó, os encontrões, a visibilidade quase nula, e o trauma da saída, apertada durante quase uma hora no meio de milhares de pessoas, com a assistência televisionada de ontem, onde pude acompanhar à lupa não só a prestação absolutamente electrizante deste colectivo, como (especialmente) a entrega, versatilidade, irreverência,  dramatismo e expressividade quase lunáticos, em suma, o incrível talento, de Mike Patton. Pela primeira vez coloquei a hipótese de Baudrillard afinal ter razão...

Ficam excertos e os links para duas reviews do concerto, assim como para duas entrevistas interessantes com Patton.

Excelente review de Rita Tristany, disponível em http://cotonete.clix.pt/noticias/body.aspx?id=45707

"(...) um concerto dos Faith No More é muito mais do que o constatar da óbvia qualidade musical do grupo. É quase uma experiência religiosa, mesmo que a fé, tal como nos diz a banda, já não tenha nada que ver com isto há muito tempo. No centro do turbilhão está o profeta-mor, Mike Patton, performer que se entrega em palco como se este fosse o último concerto da sua vida. É na voz deste quarentão bem apessoado, e ainda com pulmões do tamanho do mundo, que se reflecte a amplitude estilística do grupo. Uma viagem à velocidade da luz entre a soul e o metal, entre o hip hop e o hard rock. E como se não bastasse, o humor sempre no limite e em português, junto a um certo mau feitio irresistível, que esta noite teve como ponto máximo o momento em que decidiu fazer crowd surfing nas primeiras filas e quase ficou sem um sapato. «Mal educados», foi a resposta. Gritos, palmas e o sapato devolvido, a recompensa."


Review de IOL Música, com vídeo do concerto: clicar aqui

Entrevistas de Shooby Taylor a Mike Patton, aqui.

"ST: Finally, if you died today how would you like to be remembered?
MP: Honestly, I don't care if I'm remembered or not. I don't much think about the past or look to far into the future. That kind of thinking is for old people or sleepers. I'm more fired up and focused on right now.
But of course, I hope I died in a very cool way, like overdosing on cow semen, which would be a good way to be remembered."

Finalmente, a testemunhar a versatilidade e qualidade vocal de Patton,  fica o vídeo de um tema que, apesar de pouco adequado a festivais, e que nem é um original da banda, podia muito bem ter sido interpretado ontem pelos Faith No More..."This Guy's in Love with You", da autoria de Burt Bacharach e originalmente interpretado por Herb Alpert em 1968.
 

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