29 junho 2010

Blasted Mechanism em Londres

Não é todos os dias que uma banda portuguesa actua na capital britânica...




Os Blasted Mechanism anteciparam a sua participação no festival de Glastonbury (que ocorreu no passado fim-de-semana) e as duas actuações na capital britânica com o lançamento do seu primeiro single no mercado britânico, "Start to Move". O tema, e o respectivo vídeo, mereceram os comentários entusiásticos que se seguem, no site inglês de música http://www.redhotvelvet.co.uk/ :

"Founded / invented in the Summer of 1995 the Portuguese composite combine revolutionary technology with ancestral soundscapes of fanatical stature, to conjure melodies and beats of exquisite proportion. Their pioneering approach to structure and harmony allows this enigmatic collective of thinkers to blend qualities of electro, reggae and dub to create something truly magnificent.

Blasted Mechanism celebrate their arrival in the UK with the release of their debut UK single Start To Move on June 11th. Pungent progressions of tribal beats, futuristic sounds and an outrageously evocative structure all marry, resulting in five minutes of pure, utopian ecstasy. The accompanying video , simply put, is a spectacular cinematic experience, NOT to be ignored."


(Fonte: http://www.redhotvelvet.co.uk/music-news/blasted-mechanism-at-glastonbury/ )

Interessante também é o texto de apresentação dos Blasted feito pelo thesourcemag.net, "Blasted Mechanism to Rock West London".

Fica então o vídeo do 1º single da banda portuguesa lançado no mercado britânico.

28 junho 2010

Novo documentário "Sounds Like a Revolution"


Estreou recentemente e por enquanto está (aparentemente) apenas em exibição no seus país de origem (Canadá): o documentário Sounds like a Revolution, dirigido por Summer Love e Jane Michener, sócias da produtora Deltatime Productions, aborda o poder subversivo e mobilizador que a música detém,  particularmente na actualidade, assumindo-se como um meio importante da luta pela mudança social.

O documentário centra-se em quatro músicos que combinam a música com o activismo político e social, entre eles Fat Mike (NOFX) e Anti-Flag, e mostra ainda como os projectos musicais com mensagens/agendas político-sociais oposicionais são persistentemente censurados.

Sounds Like a Revolution inclui clips musicais, vídeos de performances ao vivo,  comícios políticos e ainda comentários de diversos músicos americanos bem conhecidos, tais como Jello Biafra, Pete Seeger, Steve Earle, etc.

Fica a indicação do site de Sounds Like a Revolution, assim como os dois vídeos promocionais disponibilizados, enquanto aguardamos que o documentário chegue a Portugal (difícil) ou que fique acessível para aquisição...


Sounds Like a Revolution - HD Trailer from Deltatime Productions on Vimeo.



Sounds Like a Revolution - Opening Title Sequence from Deltatime Productions on Vimeo.

(A partir da notícia publicada em Ryan's Punk Music Blog, 22/06/10)

26 junho 2010

Citações: Intercâmbios musicais ou os dotes vocais de João Ribas


(Os músicos Mário Jorge e João Ribas em conversa)

Foi num concorrido restaurante de Álcácer do Sal, onde está a decorrer a 20ª PIMEL (Feira do Pinhão e do Mel), que o A Crack in the Cloud ouviu fortuitamente as seguintes palavras, dirigidas a João Ribas, vocalista dos Tara Perdida (e vocalista/guitarrista dos inesquecíveis Censurados):

"Eu sei que você é um cantor de rock, mas deixe-me dizer-lhe que cantou muito bem "A Bela Portuguesa" de Diapasão. Muito afinadinho!".

Que estranho...a curiosidade matou o gato, mas não sendo muito fã destes felinos nem de adágios populares, resolvi ir tirar a história a limpo...



Abordei o autor destas palavras, ficando a saber que se tratava do músico Mário Jorge, que tinha actuado há pouco na PIMEL, e que tinha ouvido João Ribas cantar "A Bela Portuguesa" durante o ensaio de som dos Tara Perdida.

Transmitiu-me que tinha ficado espantado com a qualidade e versatilidade vocal de Ribas, dado que (como me explicou) não é fácil, por questões que se prendem com as características específicas de cada género musical, os cantores de rock ou metal interpretarem registos tão diferentes como a música ligeira/popular, e vice-versa. João Ribas constituía para ele uma excepção à regra: "é impressionante, não se vê", foram as palavras empregues para descrever a versatilidade vocal do músico.

Fica o registo, não só desta característica vocal do frontman dos Tara Perdida, bem como da abrangência da sua cultura e gostos musicais.

Daí a pouco mais de uma hora, o músico entrava em palco para mais uma excelente performance dos Tara Perdida, desta feita na bela portuguesa Álcácer do Sal.




Fica, para animar o fim-de-semana, o vídeo de "Mundo Canibal" e "Zombies", sem dúvida dois dos melhores temas dos Tara Perdida, aqui interpretados ao vivo, no concerto de comemoração dos 15 anos da banda.

24 junho 2010

Festa de Lançamento de Contracultura (GAZUA): Foto-reportagem

Fotos dos Gazua da autoria de José Dinis.


A festa de lançamento de Contracultura, o terceiro álbum de originais dos Gazua, dificilmente podia ter sido melhor e constituirá decerto, pelo menos para os presentes, um dos acontecimentos musicais de 2010.

A noite estava esplêndida, e o ambiente no arejado, moderno e descontraído lounge do cinema São Jorge era de alegria e convivialidade.

A partir das 23h, e a antecipar a performance dos Gazua, o DJ Billy deu início à sua sessão, com uma selecção musical muito diversificada e num registo relativamente calmo. Da semi-obscuridade da sala destacava-se o admirável cenário da autoria de João Morais. A sala foi-se gradualmente enchendo e estava já bastante composta quando, por volta das 23.40h, se percebeu que o espectáculo estava prestes a começar.


A música ambiente cessou, dando lugar a uma interessante peça da autoria do DJ Billy que funcionou na perfeição como introdução à entrada dos Gazua. A peça consistiu numa sequência de trechos de músicos/bandas que primaram (ou primam) por uma postura/mensagem oposicional ou contracultural (tais como como Patti Smith, Dead Kennedys, Censurados, 77, Carlos Paredes/Miguel Leiria e R12), intercalados por estática de rádio, e criou eficazmente um ambiente de concentração e expectativa, estando ainda em total sintonia com o espírito desta banda.


Foi no final desta peça, e sob os aplausos da assistência, que o power trio João ‘Corrosão’, Paulinho e Corvo entrou em palco, e deu início ao que viria ser a segunda surpresa da noite (a primeira fora, sem dúvida, a original peça de DJ Billy): um texto de João Morais, “Até Quando Vamos Esperar”, declamado pelo próprio, com fundo instrumental (bateria e baixo), num registo poético mas simultaneamente de interpelação social e política, em consonância com as ideias orientadoras deste Contracultura.


Foi de facto um dos momentos marcantes do espectáculo, que continuou, em crescendo, com as novas faixas “Casa dos Fantasmas”, “Perigo Eminente” e “Preocupa-te”. De referir a adesão imediata e resposta entusiástica do público, em grande parte conhecedor da discografia dos Gazua (incluindo os temas do novo trabalho já disponíveis no site da banda no myspace).

Seguiram-se “Ouvi Falar de Ti”, “Reescrever a História”, “Revolta” e “Sair da Escuridão”.



Foi com alguma surpresa que testemunhámos a aceitação quase imediata e a resposta francamente positiva ao excelente mas bastante experimental e algo sui generis “Chamando Urano”, o que indicia uma flexibilidade e eclectismo crescentes por parte do público musical. Seguiram-se-lhe “A Mudança Que Queres Ver”, sem dúvida um dos temas fortes do novo trabalho, e “Ela era Agonia”.




“Morreu o coveiro”, a faixa de punk rock simples e límpido interpretada pelo baixista Paulinho foi também visivelmente apreciada pelo público, que a recebeu com entusiasmo e bastante efusão.


Nova surpresa estava reservada com o tema “Queremos a Música de Volta”, em que o trecho “temos de experimentar coisas novas” foi seguido de uma inesperada performance dramática de Andrea Inocêncio, intitulada "33 Crucificação-Acção",  uma figura feminina crucificada entra em cena, desperta de um sono profundo e, parcialmente desnudada, liberta-se das cordas que a aprisionam, descendo do palco e colocando-se no meio da assistência que (decerto após alguma orientação) começa a escrever no seu corpo.

De leitura pouco óbvia, este inesperado happening causou impacto, impressionou pela atitude de abnegação e de entrega incondicional aos outros, eficazmente dramatizada pela actriz/performer,   e constituiu sem dúvida mais um elemento distintivo deste espectáculo dos Gazua. Contudo, talvez tenha pecado pela duração excessiva e por desviar a atenção do público daquele que era o foco central do evento, ou seja, a actuação da banda.


Decorrida cerca de 1 hora, e depois de “Vontade de Gritar” e “Para Todos”, dois dos temas mais fortes da banda, entusiasticamente recebidos (e correspondidos) pelo público, o espectáculo terminou da melhor forma, com o emblemático “Fazia Tudo Outra Vez”.


A festa continuou no lounge do São Jorge, com uma animada sessão de punk rock preparada pelo DJ Billy, e com os membros dos Gazua, muitos dos seus amigos e fãs em alegre confraternização, e só acabou mesmo (a contragosto) por volta das 2 da manhã, com o encerramento do espaço.


Os Gazua estão de facto de parabéns, em primeiro lugar pela produção de um novo trabalho de alto nível, e também pelo sucesso desta original festa de lançamento, criteriosamente pensada e preparada e generosamente oferecida a todos os que nela quiseram e escolheram participar.

Fica o vídeo de "Fazia tudo outra vez" enquanto esperamos pelos registos do novo trabalho...
 


GAZUA | Vídeos de Música do MySpace

22 junho 2010

Fucked Up: Cover de "Walking On Sunshine" (Katrina & The Waves)



Para alguns de nós, que - independentemente de gostarmos (ou não) ou termos gostado (ou não) - de "Walking on Sunshine" de Katrina & the Waves, ouvimos o tema na rádio ou vimos o videoclip no  programa musical Countdown, apresentado pelo bem apessoado Adam Curry, a notícia de que a música comemora este ano o 25º aniversário não deixa de ser algo deprimente, por motivos óbvios...

Pois bem, por altura deste aniversário, a banda hardcore/punk canadiana Fucked Up foi convidada a gravar uma cover do tema...justificando  no seu blog as razões que os levaram a aceitar o convite:

"we just recorded a cover of a song called "Walking on Sunshine" by a band called "Katrina and the Waves", because they paid us $1000 to do it and also because we love sunshine (...). Then we found out that we had to give some of that money to our label. Then just now I found out that that band (minus the singer) makes a million dollars a year from royalties to that song (not even exaggerating) so really we recorded the song to make Katrina and the Waves richer I guess."


Na verdade, e tal como os próprios explicam, trata-se de uma mistura da música original (dos Katrina & the Waves) com o seu tema "Crooked Head".

Aqui ficam então os vídeos do original de 1985 (na versão comemorativa dos 25 anos), a cover dos Fucked Up, intitulada "Crooked Sunshine" e "Crooked Head" (também dos Fucked Up).






18 junho 2010

Entrevista a Diana Rosa (Fanzine Outsider)

No seguimento do último post, aqui fica a entrevista que o A Crack in the Cloud fez a Diana Rosa, directora da fanzine Outsider.



Olá Diana. Obrigada pela disponibilidade para esta entrevista, numa altura complicada da preparação do segundo dia da 3ª edição do Festival Outsider.

Olá Maria João. Muito obrigada pela oportunidade que o A Crack in the Cloud oferece no sentido de partilha de ideias.

Para quem não conhece a revista, o que é a Outsider e o que é que as pessoas lá podem encontrar?

A Outsider é uma fanzine mensal. Acima de tudo o nosso tema é a música, mas também abordamos variadíssimos outros assuntos que os nossos colaboradores trazem para a mesa. Para além de entrevistas, críticas, reportagens, calendário de concertos, temos um espaço dedicado à expressão artística em formato visual, temos alguns artigos de opinião e por vezes temos artigos bastante interessantes sobre espaços influentes no panorama underground nacional.

Fala-nos um pouco de como surgiu a ideia da revista…

Surgiu da necessidade de criar um meio de comunicação dedicado a esta “minoria” que é o underground, o punk-rock e todos os outros estilos musicais mais pesados e fora do alcance dos media comuns. Infelizmente, cá em Portugal, não há nenhum meio de comunicação que esteja aberto a anunciar aquilo que divulgamos na Outsider (Ots). Mas algumas viagens a Espanha, França e Inglaterra mostraram-me que fora deste nosso país, estas publicações alternativas são bastante vulgares. Isto foi numa altura em que o site PunkPt – marco importante do panorama underground e uma grande perda – estava em vias de desaparecer e a ideia de este deixar de existir de certa forma preocupou-me.

Durante os seus últimos anos de existência foi-me dada a oportunidade de escrever as minhas primeiras reportagens, fazer fotografias e entrevistas. Posso dizer que fui muito inspirada por esta iniciativa do Hugo – PunkPt – para a criação da Ots. Mesmo no conceito de acessibilidade a todos, sendo no entanto difícil competir com a internet, através do custo da Ots. Para mim, este meio de comunicação teria de ser em papel, por isso intemporal, físico e disponível para recordações. Agora ninguém pode dizer que nenhuma publicação nacional entrevista bandas como Oi Polloi e No Use For A Name...existe a Outsider!

Devo acrescentar no entanto, relativamente a como surgiu a ideia da revista, que a primeira Ots era quinzenal e feita apenas por mim. Era terrível mas foi o apoio de quem assinou no momento que me deu força para continuar. Bem, continuar não será a palavra certa porque assim que pude terminei com este massacre quinzenal. Passado uns tempos repensei o projecto e voltei ao ataque de uma forma mais pensada.


Diana num concerto da sua banda, as Unpredictable
O facto de tocares numa banda influenciou a decisão de fundar a revista?

Não. Decididamente não. Foi antes, talvez, o facto de estar tão presente em concertos e em todo o movimento que me fez tanto integrar a banda como fundar a revista. Mas são projectos paralelos.

Queres explicar sucintamente a escolha do título “Outsider”?

Estava em casa, em frente ao pc a dar os primeiros passos com a zine que estava a criar. O nome estava a ser uma busca constante mas não era nisso que eu estava a pensar no momento. O meu iTunes estava em shuffle e, eis senão quando passa “Outsider”, cover de Ramones feita pelos Green Day. O refrão e o título da música pareceram-me imediatamente perfeitos para adjectivar aquilo que eu queria que a Outsider fosse. Ficou logo!

Quem é a equipa Outsider? Como é que ela se formou e tem crescido?

Inicialmente convidei para o projecto duas pessoas importantíssimas para a Ots existir hoje. Talvez com a recusa deles no momento nada existisse. Foram o Luís (design e paginação) e o Billy (Billy News). Sempre comigo mas sem integrar a Outsider em nenhuma função concreta esteve João Ribas que cedo passou para a direcção. A meu convite o João Pedro Almendra (Peste & Sida) criou uma coluna na Outsider intitulada “Sem Papas na Língua”. Abraçou o projecto com muito entusiasmo e, mesmo agora após ter saído a sua coluna mensal, continua a dar um grande apoio em vários sentidos! Entretanto tivemos alguns membros na redacção que cedo saíram do barco. É importante referir que, por esta altura, a revista ainda não tinha nem o nome que tem hoje nem a qualidade. Talvez isto fosse um dos motivos para que esses colaboradores não se tivessem empenhado.


Capa da Outsider nº 19, Dezembro 2009

Por intermédio do Almendra conhecemos a Sara Franco, que até hoje tem desenhado desde capas a logotipos a flyers de concertos. Este foi um marco importante na evolução da revista! Também a convite do Almendra entrou aquele que é até agora o único colaborador fora da zona de Lisboa, o Rafa e o seu “Canto do Anymal” são um apoio fantástico à Outsider. Por essa altura convidei o Bruno para escrever críticas a discos, pelo seu conhecimento técnico, bem melhor que o meu para o efeito; ainda hoje é um dos resistentes! Por esta altura arrisquei o convite a um grande amigo meu, o Fred, para entrar para a redacção. Foi sem dúvida uma grande surpresa a nível de capacidade descritiva, e quem lê a Outsider e reconhece os seus artigos sabe disso.

Pouco depois fizemos algo inédito, convidámos para a redacção uma assinante da Outsider que tínhamos acabado de conhecer, a Bárbara. Incialmente à experiência, acabou por ficar na redacção e também na direcção. Para fazer face ao problema dos erros ortográficos convidámos a Ana para a correcção ortográfica. Com mais trabalho a passar pelas mãos de todos os Luís sentiu a necessidade de ajuda na paginação, tendo entrado a Diana a convite de todos. Entretanto, com a saída da coluna do Almendra, convidámos o Hugo para escrever a sua coluna mensal “Porque a Vida não é só Futebol”. Foi uma lufada de ar fresco na revista, cheio de força o Hugo puxou por todos nós e tem sido uma ajuda fantástica, dando até uma mãozinha na redacção e tendo a seu cargo o “Portfólio”. Por último tivemos um regresso, a Cat que tinha colaborado no início da Ots voltou agora com vontade de trabalhar e está a ajudar a Ana na correcção e também na redacção. A estes todos, que passaram e já não estão, e aos que sempre estiveram, tiro o chapéu!

Qual é a relevância da revista, no contexto da imprensa musical nacional (física e virtual)?

Pouca. Penso que no contexto da imprensa nacional temos muito pouca relevância. Somos Outsiders. Uma revista para quem não encontra o que quer encontrar em qualquer uma das publicações disponíveis no mercado. Embora existam algumas revistas de música em Portugal penso que nenhuma aborda o género de artigos que publicamos na Outsider. Mas é assim que faz sentido, senão não teria criado a Outsider. Se existisse uma publicação do meu agrado acho que me podia encostar!

Quais têm sido as principais dificuldades e desafios ao longo destes dois anos e da produção de 24 números da revista?

Acho que as dificuldades são as mesmas de qualquer editora/banda/promotora do underground! Dificuldades financeiras já começam a ser um clássico. Da mesma forma como as bandas se queixam que “pagam para tocar”, nós queixamo-nos que pagamos para dar a ler aos outros. Acho que tanto as bandas como nós o fazemos por gosto e ponto final! Desafios...esses são diários e muito variados: Escrever dezenas de envelopes é um desafio! Penso que qualquer artigo que escrevamos é um desafio. Toda a Outsider é um desafio!


Capa da Outsider nº 24, Junho de 2010

Este número comemorativo apresenta algumas novidades em termos gráficos e de alguns conteúdos…

Sim, é verdade, temos um novo layout...bem giro até! Temos uma capa também com o bebé Outsider com dois aninhos! De resto, em termos de conteúdos, estreámos um artigo chamado “Uma Visita A...” que consiste em assistirmos a um ensaio de uma banda e o reportarmos. Também convidámos um colaborador que irá ficar connosco durante quatro edições, o Bidgi, e após estas quatro edições estamos a contar já com um novo colaborador!


Cartaz da 1ª edição do Festival Outsider, Maio 2009


Fala-nos um pouco da génese do Festival Outsider e da experiência da organização de já 3 edições…

Como toda a Outsider o exige, é um exercício muito grande de trabalho em equipa. No primeiro festival trabalhámos logo muito, desde publicidade a distribuirmos tarefas no dia do concerto. O segundo festival exigiu mais de nós. Era na Caixa Económica Operária e subir várias vezes aqueles três andares é um massacre... principalmente com barris de cerveja! O bar era nosso e tivemos inclusivamente de pedir ajuda a amigos fora da Outsider. No entanto e apesar de todo o cansaço acho que foi muito positivo para todos nós! Este terceiro (primeiro dia) foi novamente na Casa de Lafões, logo mais calmo. Temos tido a preocupação de não repetir bandas nas edições que se têm feito do Festival, dando sempre oportunidade a novas bandas, e de nem chamar bandas estrangeiras, incentivando novamente a que os nossos projectos sejam valorizados.


Cartaz da 2ª edição do Festival Outsider, Outubro 2009

Qual é o balanço de fazes destes 2 anos à frente do projecto Outsider?

Posso dizer que até faço um balanço positivo. Se não teria já abandonado o barco. Penso que aos poucos tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos e que as bandas têm vindo a reconhecer o nosso trabalho como importante na divulgação da música nacional… também para o público a publicação tem sido útil! Ao fim de dois anos continuamos sem ser profissionais. Continuamos a ter gralhas. Continuamos a cometer erros. Mas temos uma vitória do nosso lado: todos os meses lançamos uma Outsider melhor que a anterior, todos os meses queremos fazer melhor, por gosto e dentro das nossas capacidades. É esse o nosso mérito, penso eu.

Podes-nos avançar alguma coisa sobre alguns dos projectos da equipa Outsider para o futuro, no que respeita à revista e ao Festival?

No que respeita à revista não há grandes mudanças em mente. Mudámos agora o layout, custo e parte da estrutura e tão cedo não temos nada em mente. No entanto o Festival Outsider 4 já está a ser tratado... e mais não digo!
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....E mais não disse mesmo...temos de aguardar pelas notícias, que serão oportunamente divulgadas pelo A Crack in the Cloud.

Entretanto, aproxima-se a 2ª parte do Festival Outsider 3, agendada já para amanhã, 19 de Junho na Casa de Lafões, com a presença de bandas de peso do panorama underground e o regresso muito esperado dos Kamones, banda de covers dos Ramones de que fazem parte João Alves (Peste & Sida), João Ribas (Censurados/Tara Perdida) e Paulinho (Gazua).

É razão para dizer "Hey Ho Let's Go!!!!"

Fica então o cartaz desta 3ª edição do Festival Outsider e "Outsider", o tema dos Ramones, interpretado pelos Green Day (num álbum de tributo), que deu o nome a esta importante revista.

Para assinar a revista, basta enviar um email para outsider.email@gmail.com .


Cartaz da 3ª edição do Festival Outsider, Junho 2010

17 junho 2010

Snapshot: Diana Rosa, directora da Fanzine Outsider

Por altura do 2º aniversário da fanzine Outsider e da realização da 3ª edição do Festival Outsider, organizado pela equipa editorial da revista na prossecução do seu objectivo fundador, o A Crack in the Cloud  quis conhecer melhor este projecto, assim como Diana Rosa, a jovem dinâmica e talentosa que acumula as funções de directora da revista com a música, a fotografia e outras responsabilidades profissionais.

Assim, este post é uma espécie de instantâneo, ou "snapshot", que nos dá a conhecer um pouco da Diana, e será seguido de uma entrevista em que a directora desta fanzine nos fala do projecto Outsider, particularmente da sua génese e evolução, da equipa editorial, e da organização do Festival Outsider.



Diana Rosa
  
  Nome artístico: Peste

  Actividades/Projectos: Un-Predictable; Outsider; Fotografia.

  Gosta de: Concertos ao vivo.

  Detesta: Maus concertos ao vivo!

  Bandas preferidas: Lagwagon; Soziedad Alkohólika; Crass.

  Um concerto inesquecível: Tara Perdida – 10 anos, Santiago Alquimista.

  Um concerto para esquecer: Dwarves – Lótus Bar, Cascais.

  Um momento/acontecimento insólito: Acho que a minha vida é toda um pouco insólita.

  Um local de eleição: Casa de Lafões.

  Uma coisa que gostasse de mudar no mundo…O sistema económico (mas isto deve
                                                                               estar para breve!).

  Gostaria de apanhar um avião para… Macau.



Fica o vídeo de "Piedra contra Tijera", dos Soziedad Alkoholica, uma das bandas favoritas da Diana, com uma mensagem bem actual e pertinente.

15 junho 2010

Uma análise de "Contracultura", o novo trabalho dos Gazua

A poucos dias do lançamento de Contracultura, o terceiro álbum de originais dos Gazua, agendado para a próxima sexta-feira, 18 de Junho, às 23h no Cinema São Jorge em Lisboa, o A Crack in the Cloud avança aqui uma análise pessoal deste trabalho.

Impõe-se desde logo um 'aviso à navegação': o texto que se segue não é uma review musical no sentido comum, mas sim uma análise crítica deste trabalho, fundamentalmente na sua vertente cultural e não estritamente musical.

O A Crack in the Cloud desde já recomenda a leitura da excelente review ao álbum da autoria de Billy, disponível no blog Billy-News. Para ler esta review clicar aqui.


O último trabalho dos Gazua, Contracultura, é como que um espelho de nós próprios, um misto de contrastes e dicotomias: é simultaneamente uma brisa fresca e um furacão, embala-nos e sacode-nos, arrebata-nos e ao mesmo tempo confronta-nos com o nosso eu mais interior, com os nossos fantasmas, com o nosso comodismo, individualismo, alienação, passividade e responsabilidade pelo actual estado de coisas…Ao mesmo tempo, contudo, mostra-nos que não estamos sós no nosso descontentamento e impotência, e que o caminho da mudança passa por alterações profundas, tanto a nível individual como colectivo: por uma verdadeira “cultura alternativa”! 

Contracultura é um trabalho mais rico e complexo do que os anteriores Convocação (2008) e Música Pirata (2009), tanto em termos musicais como de mensagem. Contém por isso faixas de um rock fácil, rápido e catchy, que se ouvem num fôlego só, a par de outras mais trabalhadas e experimentais, que exigem uma audição mais aprofundada e uma maior flexibilidade - do ouvido e da mente.

O álbum mostra-nos igualmente um colectivo mais maduro e muito bem sintonizado, com uma identidade própria que, apesar de já bem visível nos trabalhos anteriores, se revela aqui de forma muito mais vincada e segura, não só ao nível da produção colectiva como da criatividade e das especificidades individuais. Este trabalho destaca-se ainda pela qualidade (literária) das letras, assim como pelo design elaborado e conceptual, ambos da autoria de João Morais (ver entrevista em posts anteriores).

“A mudança que queres ver” é simplesmente arrebatadora, e confronta-nos, sem dó nem piedade, com a superficialidade que cultivamos dentro de nós e nas nossas relações com os outros, assim como com a apatia e indiferença com que nos escudamos das dificuldades, complexidade e problemas do mundo em que vivemos. Contudo, dado que cada um de nós é parte integrante desse mesmo mundo, a responsabilidade da mudança tem de ser assumida activamente:

“(…) E corres! corres! / mas não podes fugir / tens de te tornar na mudança que queres ver”.

“Preocupa-te”, o segundo tema do álbum, com um ritmo igualmente rápido e contagiante, concretiza um pouco mais as facetas que a mudança individual deve assumir, apelando à necessidade de maior atenção, reflexão crítica e envolvimento com o mundo em que vivemos e com aqueles que o partilham connosco.

“Preocupa-te com o facto de não teres dinheiro / se trabalhas sem parar o ano inteiro / preocupa-te se alguém não sabe ler nem escrever / num mundo já de si traiçoeiro”.

Simplesmente vertiginoso, “Ele Já Não Respira” retoma, num registo poético, uma temática já abordada em trabalhos anteriores (por exemplo em “Por Outro Lado”, Música Pirata), nomeadamente a dos sem-abrigo: pessoas comuns cujos projectos de vida falharam e para quem a sociedade continua a não ter resposta, deixando-os à mercê da degradação, dos elementos e da caridade de alguns.

“Deste tudo o que tinhas para dar / A vida parou num beco sem saída / Submerso numa poça tentaste-te levantar / Ele já não respira!”

Em “Mais Significado” o ritmo abranda, mas não o olhar clínico social, que se dirige implacável ao consumismo desenfreado que aliena, aprisiona e eficazmente neutraliza a consciência crítica, a mobilização colectiva e o seu indubitável potencial de oposição e de mudança. A letra apela por isso à capacidade de recusarmos as falsas promessas do consumismo capitalista, e de procurarmos satisfações e recompensas mais sólidas noutras esferas, talvez das relações humanas, e de actividades não monetizadas:

“Há mais na vida e mais verdadeiro/ Que não se vê e não custa dinheiro”.

“Morreu o Coveiro” oferece-nos um momento fugaz de escapismo, transportando-nos para os ambientes lúgubres do romance gótico, e para a figura solitária, singular e marginal do coveiro, que vive o dia-a-dia numa espécie de limbo entre o mundo dos vivos e dos mortos, até ele próprio sucumbir… Esta música tem a particularidade de ter letra e voz do baixista Paulinho.

“Chamando Urano” é talvez o tema mais experimental do álbum, num registo mais lento e que convida à introspecção. É um lamento desencantado perante a violência, o ódio, a falsidade, a discórdia e a ganância inescrupulosa do mundo actual, e a decisão da fuga para um planeta distante, por mais inóspito que seja à vida humana…

“Perigo Eminente” traz-nos de volta à ‘Gazualand’ do rock límpido, melódico e acelerado, e à temática já familiar dos borderliners, pessoas - reais, que todos conhecemos ao longo das nossas vidas - cuja rebeldia e intensidade assumem por vezes contornos patológicos, precipitando a sua auto-destruição…

“Corpo Oco” traz ao de cima a preocupação dos Gazua com a história recente do país. Ao ouvi-lo, relembramos o regime ditatorial que marcou (e marca ainda…) indelevelmente os destinos e a identidade nacional. Aproveitando a margem interpretativa que o tema permite, escolhemos lê-lo como uma recusa e denúncia das tentativas persistentes de branquear o fascismo e de reabilitar esse homem tenebroso e facínora que foi Salazar:

“Uma pele suja num corpo oco / E ver-te cair soube-me a pouco”.

“Divagueando” é um interessante exercício instrumental, e constitui mais um ‘corte’ neste álbum marcado pela exploração de vários caminhos sonoros.

“Casa dos Fantasmas” recupera o registo mais melódico, escorreito e acelerado ‘tipicamente Gazua’.

“Nunca Estou Satisfeito” surpreende-nos pela sua improbabilidade: um tema rápido, fresco e leve que nos fala (com algum humor) da insatisfação permanente que caracteriza a natureza humana. Uma escolha estranha para terminar um álbum que se caracteriza essencialmente pela densidade reflexiva…

… E eis que surge então, de forma surpreendente e inesperada,  “a cereja no topo do bolo”: após o término da música, um silêncio longo e pesado dá lugar a uma faixa escondida, intitulada “A Minha Droga”. É uma música profundamente sombria e intimista, quase arrepiante, dominada pelo lamento de uma guitarra eléctrica a abafar uma voz off que, num registo poético e filosófico, sintetiza algumas das principais ideias que perpassam não só este Contracultura, como a obra feita dos Gazua: o descontentamento perante o mundo actual, e a premência de redescobrir e implementar, individual e colectivamente, uma cultura humanista cívica e democrática (com raízes históricas milenares) que nos conduza a formas mais justas e igualitárias de vivência comum.

“A minha droga são pessoas / fortes e decididas / que não baixaram a cabeça / não se deram por vencidas / esmurraram as mesas / marcaram posições / perderam gotas de sangue / à procura de soluções (…)”.

Em suma: Contracultura é indubitavelmente uma amostra concentrada do melhor que o rock pode oferecer no mundo do século XXI. Em termos de sonoridade, proporciona-nos uma experiência musical plena e enriquecedora, mas de alguma exigência interpretativa, requerendo concentração e flexibilidade q.b.

Em termos de conteúdo, Contracultura é um verdadeiro survival kit para enfrentarmos o quotidiano difícil numa sociedade hiper-capitalizada, desorientada, alienada, em que a falência de um sistema económico putrefacto desde a nascença precipita e agudiza muitas das suas consequências nefastas: a desigualdade e a injustiça, a miséria e a desumanização a todos os níveis (político, económico, social e cultural). É também um abanão violento que nos impele a uma mudança interior e de atitude perante os outros e perante o mundo, e que terá de constituir o primeiro e imprescindível passo para a mudança e melhoria dos destinos individuais e colectivos.

(Maria João Ramos, aka Sheena)

Para adquirir o Contracultura (ou os trabalhos anteriores da banda), basta visitar o site dos Gazua no myspace e seguir as indicações fornecidas.

Fica o convite original dos Gazua para a festa:


GAZUA | MySpace Music Videos

13 junho 2010

O Blog "77 Motherfucker Club" disponibiliza compilação de tributo aos Ramones

 Este post inclui o trailer do filme Rock n'Roll Highschool.


A blogosfera é de facto um admirável mundo novo, cheio de sítios e pessoas interessantes e com substância que vale a pena conhecer e descobrir...

Esta semana fui parar casualmente ao interessante blog espanhol "77 Motherfucker Club: music for rockers, punkers & sinners". Para visitar este blog basta clicar aqui.

O seu autor, Rafa Ramone, disponibilizou recentemente uma excelente compilação, da sua autoria, dedicada aos Ramones que, como ele explica, consitui a sua "homenagem pessoal aos Ramones", e tem a particularidade de incluir temas não dos Ramones mas sim sobre os Ramones, interpretados por músicos de várias nacionalidades.

A compilação, com 29 temas e um medley de 11 minutos retirado do filme de 1979 Rock & Roll Highschool, está disponível para download gratuito neste blog,  aqui. Basta clicar em "descarga".


 
Parabéns e os nossos sinceros agradecimentos ao Rafa por partilhar connosco este tributo a uma banda cujo espírito permanece bem vivo e que continua a mover fãs de diversas culturas, faixas etárias, raças e credos, em todo o mundo.

12 junho 2010

"White Riot" ao vivo em Londres pelos Rage Against the Machine

Este post inclui o tema "White Riot" dos The Clash, interpretado pelos RATM no passado dia 6 de Junho em Finsbury Park, Londres.

A entusiasmante saga da ascenção de "Killing in the Name", dos Rage Against de Machine, ao lugar cimeiro do top britânico de Natal, numa acção concertada levada a cabo no Facebook para impedir que o vencedor saísse mais uma vez do concurso televisivo The X Factor,  foi reportada aqui no A Crack in the Cloud.

Também aqui se deu a notícia da decisão subsequente da banda de doar as receitas das vendas da música à instituição britânica Shelter, de apoio aos sem-abrigo,  e de oferecer um concerto aos fãs britânicos, intitulado "The Rage Factor",  que teve lugar no passado dia 6 de Junho em  Finsbury Park.

O parque teve lotação esgotada, com 40.000 das 180.000 pessoas que se candidataram a um bilhete para o evento.

O concerto contou ainda com as actuações dos Gallows, Roots Manuva e Gogol Bordello na 1ª parte.
Durante o concerto, e antes de "Township Rebellion", Zack de La Rocha condenou o bloqueio israelita da Faixa de Gaza...

Um pouco mais tarde, relembrou músicos e bandas que constituiram pontos de ruptura e que mudaram o mundo...The Who, Sex Pistols, e The Clash (entre outros)...

...Foi então que se ouviu "White Riot", a actualíssima música dos The Clash...

10 junho 2010

Entrevista a João Morais (Gazua) - 2ª Parte


Na continuação do post anterior, reproduz-se aqui a 2ª parte da entrevista ao frontman dos Gazua, João Morais, maioritariamente centrada no 3º álbum de originais da banda, Contracultura, e no seu lançamento, agendado já para o próximo dia 18 de Junho.


O que é que as pessoas em geral, e os apreciadores de Gazua em particular, podem esperar deste novo trabalho, Contracultura, em termos musicais (continuidades/rupturas e inovações)?

A continuidade estará sempre lá, pois somos os mesmos 3 músicos, tocamos os mesmos instrumentos e continuamos os 3 de cabeça dura!


Inovações e rupturas haverá sem dúvida... a nossa música é de e para pessoas de mente aberta. Não há preconceitos! O estado de espírito muda e com isso muda a composição. Se há coisas que não são bem-vindas são barreiras criativas.


Gostei de ouvir dizer que o Contracultura é um disco à "gazua", o que quer dizer que existe um cunho nosso.

O vosso pendor crítico e de intervenção torna-se mais explícito e omnipresente no trabalho que está aí a ‘rebentar’. Queres explicar o título (e talvez do conceito orientador) do álbum, Contracultura? É um conceito com uma grande carga histórica…

De forma sucinta, Contracultura foi o nome dado a um movimento que atravessou os anos 60, incidindo particularmente nos EUA mas também na Europa (França com o Maio de 68 e na Checoslováquia com a Primavera de Praga também em 68), onde se viveram anos de muita contestação social levada a cabo por jovens que se mobilizaram para questionar e criticar os valores culturais vigentes.


Tabus como o racismo, a corrupção, a guerra e os direitos das mulheres ou os direitos civis de uma forma geral, são alguns exemplos das motivações que geraram estes movimentos.

Gostei da ideia, li um excelente livro sobre o assunto e achei o tema ideal para explorar no novo trabalho.

De que forma é que o conceito de contracultura é desenvolvido no álbum (nas temáticas abordadas e também graficamente)?

O disco tem um design muito inspirado nos flyers que se usavam há uns anos para passar informação.

Tem um poster com uma série de personalidades que criaram pontos de mudança ao longo dos tempos, desde o Voltaire em França no séc. XVIII com a defesa das liberdades civis e religiosas, ao Michael Moore e os seus filmes que denunciam alguns podres da sociedade americana. São tudo pessoas que tentam criar os tais pontos de mudança.

O disco vem acompanhado ainda de um patch para coser numa peça de roupa, uma palheta para tocar, um pin para colocar num casaco ou mala e um autocolante para colar em qualquer lado, sendo tudo junto uma espécie de "Kit" para esta nova Contracultura.

(Imagem disponível em http://www.myspace.com/gazua)

Vários temas deste novo trabalho – por exemplo “A Mudança que Queres Ver”, ou “Preocupa-te”, já disponíveis no vosso site do myspace - apelam à necessidade (e à urgência) de uma tomada de consciência e participação individual activa na transformação social...vocês consideram-se herdeiros e representantes na sociedade actual da tradição da música de intervenção? Ela ainda faz sentido hoje/é necessária?

O facto de ter havido um regime Fascista em Portugal não justifica que apenas nessa fase tivesse havido contestação. Hoje não temos o Fascismo, mas temos o Capitalismo, que é um inimigo também perigoso, mas muito mais "matreiro". Não se mostra com tanta clareza.


A música de Intervenção é isso mesmo... inspira a Intervenção e isso tem que fazer parte do nosso dia-a-dia.

Sim, a consciência histórica é outra das características bem visíveis no vosso trabalho. Têm temas dedicados a momentos e a figuras importantes da nossa história… Raymond Williams, um teórico social e cultural britânico, afirma que “a história ainda nos mostra a maior parte do passado conhecível e todo o tipo de futuro imaginável”. É também esta a tua/vossa visão? É por isso que a história recente está tão presente no vosso trabalho?

Uma opinião não se pode construir apenas pensando no presente e olhando para o futuro. Tem que ter as suas fundações também no passado. É como um alicerce.

A maior riqueza de um país está na sua identidade cultural, é aí que se cria um elo entre o seu povo. Claro que há sempre coisas boas e coisas más, mas teremos que saber usar os exemplos bons e não repetir os exemplos maus.

Um dos problemas que sinto que temos é que de repente há uma nova geração em que as suas (poucas) referências vêm todas de fora e por isso acabam por desprezar o seu próprio país não sentido qualquer vontade de lutar por ele numa perspectiva de intervenção política, deixando o país à deriva.

(Imagem disponível em http://www.myspace.com/gazua)


Para terminar, gostava que levantasses a ponta do véu relativamente ao que poderemos esperar da festa de lançamento do álbum, já no próximo dia 18 no S. Jorge…

Esse concerto está a ser preparado de forma um pouco mais especial, não porque é mais importante que os outros concertos (não é!), mas porque queremos fazer desse dia um dia de viragem na nossa atitude em palco, não uma viragem radical, obviamente, mas criando mais pontos de comunicação com o público e com um fio condutor mais consistente do inicio ao fim do espectáculo.

Vamos como é óbvio tocar muitos temas do novo disco...


Temos neste momento um problema que é a selecção dos temas, visto a lista estar a crescer bastante :-)


Obrigado pela entrevista e pelo apoio!

O A Crack in the Croud é que agradece, ao João pela disponibilidade, e aos Gazua pela música entusiasmante e interpeladora.

Entrevista realizada por Maria João Ramos, aka Sheena.  

08 junho 2010

Entrevista a João Morais (Gazua) - 1ª Parte


(Foto  por Sónia Pena, disponível em

Os Gazua são uma das bandas mais interessantes, activas e produtivas do panorama musical actual. O projecto nasceu em 2005 mas é constituído por três músicos com um longo percurso e experiência profissionais: João Corrosão (guitarra e voz), Paulinho (baixo e voz) e Corvo (bateria). O volume e o ritmo de trabalho deste verdadeiro power trio são extraordinários, com a produção de um álbum de originais por ano desde 2008.

O lançamento do novo trabalho, Contracultura, agendado já para o próximo dia 18 de Junho no Cinema São Jorge em Lisboa, é indiscutivelmente um dos principais acontecimentos de 2010 no panorama musical nacional  e deu o mote para esta entrevista: João Morais é o vocalista, guitarrista e autor da maioria das letras e das músicas dos Gazua, assim como do grafismo elaborado e conceptual que é mais um elemento distintivo deste projecto.

O A Crack in the Cloud muito agradece desde já a disponibilidade do João, numa altura de grande azáfama na preparação do lançamento deste terceiro álbum de originais.

 
Para quem ainda não vos conhece: quem são os Gazua e como defines o vosso projecto?

Os Gazua são 3 músicos de cabeça dura que não conseguem deixar de fazer música. Todos temos bastante experiência no circuito musical, e concentramos agora energias para levar este projecto o mais longe possível.

Somos uma banda de essência punk-rock, mas sem preconceitos para com todos os outros géneros. As portas estão escancaradas! A música é uma linguagem Universal!

A maior ligação ao punk-rock surge por ser uma das nossas principais referências musicais, e por ser um género onde a parte lírica desempenha um papel importante e reivindicativo.

Podemos considerar que tocamos música de intervenção.

(Foto disponível em http://www.myspace.com/gazua )

As categorizações musicais convencionais são importantes para vocês?

As categorizações são necessárias mais na perspectiva da indústria, onde tudo se encaixa por estilos e/ou géneros.Claro que isso influencia tudo o resto e hoje é essencial para facilitar a explicação do que se está a fazer.

No que diz respeito ao funcionamento da banda, penso que é pouco importante, pois o que tentamos fazer é algo com que nos identifiquemos e isso pode vir de referências bem distintas e não só do punk-rock.

Ainda sobre a vossa ligação ao punk, não só em termos musicais mas também conceptuais…consideras que o punk foi um fenómeno datado histórica e geograficamente ou que ainda existe e é pertinente hoje, por exemplo no contexto nacional?

Se pensar neste género como uma filosofia de vida (mais autónoma em relação à cultura instituída), acho que o punk pode estar presente sempre que assim optarmos, sempre que quisermos levantar a voz e criticar alguma coisa que achemos menos correcta, ou simplesmente se quisermos fazer as nossas próprias opções de vida não seguindo apenas a moda da altura.

Claro que há sempre quem transforme o punk numa moda, (ou num cartão de visita em Londres...), mas este género veste-se por dentro e não por fora.

Cá em Portugal, penso que todos deveríamos ter algum "punk-rock" dentro de nós :-), pois isso ajudaria a desenvolver algum espírito crítico, coisa muito em falta no nosso país.


O conceito do vosso trabalho estende-se também à forma como todo o grafismo/artwork é concebido e implementado em cada um dos álbuns…

O grafismo também ajuda a ampliar a mensagem que se quer transmitir. Ainda para mais, tenho formação em design e nesse aspecto não gosto de deixar passar nada ao acaso.

Sempre me fascinou o artwork dos discos das bandas que gosto, por isso dou muita importância ao que se transmite visualmente.

Fala-nos um pouco do caminho que a banda percorreu ao longo destes três trabalhos, separados entre si por um curtíssimo espaço de um ano…em que medida em que eles se diferenciam…ou como é que vocês evoluíram, no que concerne à vossa música e enquanto colectivo?

Costumo dizer que gravar um disco faz uma banda olhar para si própria e aprender muito em relação ao que está a fazer. Gravar 3 discos dá portanto um conhecimento muito mais profundo. Os Gazua cresceram muito com o estúdio e com o feedback que esse trabalho trouxe de fora. Conseguimos entender melhor o que queríamos. Vejo estes 3 discos como uma evolução natural, onde fomos tentando ser cada vez melhores naquilo que fazemos.

O primeiro disco "Convocação", foi um trabalho mais cru musicalmente e liricamente, o segundo disco "Música Pirata" já teve mais trabalho ao nível da composição dos temas e das letras, os temas tornaram-se por isso mais complexos, e no terceiro "Contracultura" procurámos um equilíbrio entre os dois primeiros, se bem que neste último o artwork teve uma componente conceptual muito mais aprofundada.

Como banda, diria que estamos muito mais adultos, e por isso mesmo queremos agora explorar outros caminhos que personalizem ainda mais o nosso som.
Que caminhos serão esses é que ainda não sabemos... :-)

(Foto disponível em http://www.myspace.com/gazua)

Vocês são também extremamente activos no que concerne a prestações ao vivo, sendo requisitados para um sem número de eventos um pouco por todo o país…Tens algum/alguns concerto(s) que guardes na memória, ou que recordes especialmente?

O palco principal da Festa do Avante foi sem dúvida o ponto mais alto até à data. Sentimos mesmo que o que estamos a fazer faz sentido.

Há com certeza outros concertos em que nos sentimos muito bem, mas achamos que estamos a começar e que o melhor ainda está para vir.

Como é que vocês conseguem conciliar a produção de um álbum por ano (sendo responsáveis por todo o processo criativo) com as prestações ao vivo, projectos musicais paralelos e as vossas vidas pessoais/familiares? É espantoso…a música é a vossa principal actividade?

HA! HA! HA! HA!!!
A música ser a principal actividade neste país seria quase mau sinal... para vender muitos discos acho que teríamos que descer muito a fasquia (infelizmente...). Pode ser que as coisas mudem.

Temos todos empregos durante o dia.
Em relação a projectos paralelos até se pode dizer que neste momento são inexistentes. Máxima concentração!!

Temos também tido uma política "financeira" em que o dinheiro que a banda faz é para gastar na banda, e isso tem criado condições para o trabalho continuado que temos vindo a desenvolver.

Há acima de tudo muita vontade de tocar e fazer passar a mensagem.

(Foto por Sónia Pena, disponível em


Como é que é ser-se músico em Portugal hoje?

Tirando uma ou outra estrela cintilante, pode-se dizer que é frustrante!
Infelizmente a Inglaterra e os EUA continuam a saber melhor o que é que é bom para nós... A nossa cultura musical é quase totalmente importada (assim como tanta outra coisa), deixando a música nacional sempre para segundo plano.
  
Há uma componente forte de reflexão e de crítica social e política no vosso trabalho, que tem vindo a assumir contornos cada vez mais expressivos …isso é casual ou tem a ver com a vossa experiência/percepção da sociedade contemporânea?

Digamos que estamos cada vez mais crescidos... e mais atentos!
Claro que quanto mais nos afundamos nesta sociedade totalmente capitalizada, mais sentimos necessidade de passar a nossa mensagem.

Queremos que as pessoas parem para pensar um pouco. Que se tentem concentrar no essencial e que consigam dizer não ao supérfluo.

O que nos é incutido diariamente é exactamente o oposto disto.

(Fim da 1ª Parte)

A segunda parte desta entrevista, mais centrada no novo trabalho dos Gazua - Contracultura - será publicada no próximo post.

Entretanto fica o vídeo de "Para Todos", ao vivo na Festa do Avante em Setembro de 2009.