15 fevereiro 2010

Porque não podemos viver sem Música

 

Philip Ball, escritor britânico freelance sobre ciência, e com um vincado interesse nas relações entre as artes e as ciências, acabou de lançar o livro Music Instinct, onde explora a presença da música nas sociedades humanas, as potenciais razões que explicam as origens e os propósitos da música ao longo da história, etc., através de uma abordagem multidisciplinar (matemática, neurologia, história, filosofia, etc.).

Philip Ball falou sobre o seu livro e sobre estas temáticas numa conversa com Alok Jah, correspondente de ciência/ambiente do jornal britânico The Guardian, numa entrevista disponível em podcast no website do jornal (disponível aqui). A entrevista é longa, mas a parte mais interessante corresponde aos primeiros 6-7 minutos.

Aqui ficam algumas das ideias interessantes apresentadas pelo autor na entrevista:

 O primeiro instrumento musical conhecido
De acordo com Ball, a música é intrínseca a todas as sociedades humanas. O primeiro instrumento musical conhecido, fabricado a partir de osso de pássaro, data da última Idade do Gelo e foi encontrado na Alemanha.

As funções da música nas sociedades humanas
Existem várias hipóteses plausíveis para as (várias) funções que a música terá desempenhado ao longo da história nas várias sociedades: por exemplo, a música pode ter sido (ou ser ainda?) utilizada como instrumento de atracção sexual (hipótese defendida por exemplo por Charles Darwin) ou para fomentar a coesão de grupo/social.

Poderiam as sociedades/culturas sobreviver sem música?
Quando questionado sobre o que o que mudaria numa sociedade/cultura se a música fosse removida, Ball defende que não a questão é inútil, pois não se conhece nenhuma sociedade onde a música não tenha existido. Para além disso, independentemente de ter origens genéticas ou culturais, a realidade é que a música está tão profundamente inscrita/impressa nos nossos cérebros que eles estão intrinsecamente formatados para organizar o som de uma forma que conduz à produção musical. Ball conclui por isso que "não podemos eliminar a música das nossas culturas sem alterar os nossos cérebros"...

 A magia da música
Ball admite que a música tem propriedades que escapam à compreensão científica, e que lhe conferem, ainda hoje, um carácter mágico: por exemplo, a capacidade que a música (mesmo instrumental) tem de "falar connosco", de nos afectar, sem que o consigamos evitar, ou resistir, despertando emoções (alegria, tristeza, raiva, euforia, melancolia, etc.) e provocando reacções físicas (como lágrimas ou arrepios). Mesmo aquilo que consideramos 'má' música / música de que não gostamos (o exemplo mencionado na entrevista foi Lady in Red de Chris de Burgh, que arrepiava e levava às lágrimas o comentador).

Neste âmbito, e citando o escritor russo Tolstoi, Ball resume a nossa complexa ligação à música afirmando que ela constitui "um atalho para as nossas emoções".

Philip Ball dá amanhã uma palestra sobre esta temática em Londres, na "Royal Institution of Great Britain". Mais detalhes sobre o evento aqui.

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