24 fevereiro 2010

Entrevista a John Lydon no último número da revista londrina The Stool Pigeon


A edição comemorativa dos cinco anos da revista londrina The Stool Pigeon, eleita a melhor revista musical gratuita do Reino Unido em 2007 e 2009, acabou de sair e inclui uma entrevista ao mítico vocalista dos Sex Pistols, John Lydon (mais conhecido como Johnny Rotten).

(Johnny Rotten fotografado por Dennis Morris)

A entrevista está parcialmente disponível no site The Quietus. Lydon, perpétuo enfant terrible, surpreende desta vez ao afirmar que afinal sempre gostou dos Pink Floyd, declarando:

"Listen, you’d have to be daft as a brush to say you didn’t like Pink Floyd. They’ve done great stuff. They’ve done rubbish too. Dark Side of the Moon I love. But I go right back to when they were with Syd Barrett. But I grew up with all kinds of music."

A surpresa da afirmação reside no facto de Rotten ter adulterado uma T-Shirt dos Pink Floyd (que o próprio admite ter roubado de uma banca), para que figurasse a frase "I hate Pink Floyd", numa altura em que a banda gozava de imensa popularidade. Como Lydon refere num documentário televisivo, esta sua atitude foi na altura considerada uma blasfémia...

21 fevereiro 2010

O Projecto Revolta

Este post inclui o vídeo "Nuclear Não" dos Revolta (ao vivo).


Volvido quase um ano do lançamento de Ninguém Manda em Ti, o 1º LP dos Revolta, e não obstante a existência de excelentes e mais atempadas análises/reviews do álbum, não resisto a deter-me neste que é sem dúvida não só um dos trabalhos mais interessantes de 2009 como (principalmente) um dos projectos musicais mais entusiasmantes da actualidade.

Unanimemente aclamados pela crítica, reconhecidos como fiéis depositários e prossecutores da música e do espírito punk nacional da década 80, os Revolta constituem não só uma lufada de ar fresco (e uma promessa de futuro) na cena musical portuguesa mas também mais um indício de uma importante mudança que parece estar a fermentar não só na música (com bandas como Gazua ou Dalai Lume) como na sociedade portuguesa actuais, e que poucas palavras exprimirão tão bem como aquela que este power trio escolheu para si: Revolta.

Num texto recente (no blog Ruído Alternativo), Carlos Montês descreveu, de forma perfeita, a essência de Ninguém Manda em Ti: “Os Revolta (…) exprimem muito bem em onze faixas do que o punk deve ser feito: mensagem crítica, solos rápidos e muita velocidade. Curto e grosso.”

O principal elemento distintivo do álbum e do projecto Revolta no seio do punk actual é, na minha opinião, a mensagem. O punk é, na sua essência, curto e rápido, mas nem sempre a sonoridade, por muito espectacular que seja, é provida de conteúdo. Outras vezes é superficial, limitando-se a debitar chavões já gastos e confortavelmente descomprometidos, como “Que se lixe tudo” ou “Estou-me a borrifar (com os respectivos f*s e c*s, claro). Sem negar a postura desafiadora e irreverente punk (bem patente na imagem de apresentação da banda), os Revolta destacam-se inegavelmente pela substância, densidade e solidez do projecto e da sua música.

Numa excelente entrevista a um jornal nacional, António Côrte-Real (guitarra e voz) rejeita as categorizações musicais tradicionais (rock/punk/punk rock), preferindo enfatizar o cariz deliberadamente interventivo da música dos Revolta e as motivações iminentemente sociais e políticas que levaram à formação da banda em 2006 e que continuam a justificar o projecto: “A conjuntura política e social que vivíamos na altura e que com o passar dos anos em vez de melhorar só tem piorado (…)”.

E é com agradável surpresa que vemos o jovem Côrte-Real concretizar, nesta entrevista, o significado desta sua afirmação, enumerando com incrível perspicácia e sem papas na língua alguns dos principais problemas sociais da sociedade portuguesa actual: a alienação operada pelas indústrias de entretenimento, e que afectam particularmente os jovens, cada vez mais acríticos e afastados da realidade económica e política em que vivem (e que irá condicionar e coarctar todas as suas possibilidades de vida), a disfunção e o descrédito de instituições/sectores fulcrais da vida nacional (como o judicial e o político); a falência dos sectores produtivos nacionais continuamente hipotecados pelos nossos governantes à CEE (como já em 1981 os GNR sarcasticamente previam). A este propósito, António afirma:

“É uma vergonha! Repare-se que os nossos políticos assinaram acordos de cotas para a produção nacional e depois passam os dias a dizer na televisão que o problema de Portugal é não produzir nada! Produzir o quê e como, se naquilo que temos de bom e sabemos fazer não nos deixam produzir em excesso para podermos exportar…Há pescadores felizes em Portugal? E agricultores? Aliás, há alguma classe de trabalhadores neste país, sem ser a classe dirigente, feliz?”

Mas os Revolta não limitam o seu olhar crítico ao contexto nacional, apontando baterias à  principal raison d'être dos problemas económicos, sociais e ambientais da actualidade: o capitalismo, particularmente na sua mais recente e arrasadora variante neoliberal. Na entrevista mencionada, António Côrte-Real critica, por exemplo, a indústria musical que controla e limita o sistema a um “grupo instituído”, dificultando a afirmação de bandas novas (e alternativas?).

A realidade confirma-o: o facto de muito do que de melhor que se faz neste momento em Portugal ser produzido pelas próprias bandas (ou por pequenas produtoras/editoras), e circunscrever-se a um circuito alternativo que sobrevive à custa de muita “carolice” (e com a ajuda das novas redes sociais myspace, facebook, etc.), ilustra bem o carácter elitista e quase hermeticamente fechado de uma indústria musical (discográfica e media) que, cada vez mais concentrada, apoia, fabrica, e impõe sonoridades anestesiantes e conteúdos inócuos num mercado cada vez mais controlado e dominado exclusivamente por imperativos económicos: leia-se, a maximização do lucro.

O guitarrista dos Revolta insurge-se também contra o poder das grandes multinacionais e o controlo que exercem sobre as vidas e os destinos individuais e colectivos. Esta é de facto, a meu ver, uma questão fulcral que cada um de nós se deve colocar: como é que – individual e colectivamente – continuamos a pactuar com um sistema que em vez de servir o bem comum explora e destrói a maioria em benefício de uma cada vez mais diminuta elite global? Como é que nos iludimos com a falácia de uma pseudo-democracia onde liberdade e igualdade de oportunidades são pura demagogia? O facto da entrevista a António Côrte-Real figurar no jornal O Crime não deixa de ser ilustrativa da sociedade em que vivemos e da persistente neutralização e descredibilização do alternativo ou do oposicional  emergentes (por mais ténues que sejam). A entrevista encontra-se disponível no blog Billy-News, em

O trabalho dos Revolta, Ninguém Manda em Ti, será objecto de um próximo post. Por agora, e poucos dias depois de Barack Obama ter anunciado a construção de uma nova central nuclear nos EUA (a primeira em 30 anos), como uma medida positiva e com o pretexto de minorar o problema do desemprego que, como sabemos (e ele também), não é conjuntural mas estrutural, aqui fica um vislumbre deste excelente trabalho: o vídeo de “Nuclear Não”, faixa nº 5 e um dos singles de avanço do álbum, lançado em parceria com o partido ecologista “Os Verdes” em Março de 2009.

15 fevereiro 2010

Porque não podemos viver sem Música

 

Philip Ball, escritor britânico freelance sobre ciência, e com um vincado interesse nas relações entre as artes e as ciências, acabou de lançar o livro Music Instinct, onde explora a presença da música nas sociedades humanas, as potenciais razões que explicam as origens e os propósitos da música ao longo da história, etc., através de uma abordagem multidisciplinar (matemática, neurologia, história, filosofia, etc.).

Philip Ball falou sobre o seu livro e sobre estas temáticas numa conversa com Alok Jah, correspondente de ciência/ambiente do jornal britânico The Guardian, numa entrevista disponível em podcast no website do jornal (disponível aqui). A entrevista é longa, mas a parte mais interessante corresponde aos primeiros 6-7 minutos.

Aqui ficam algumas das ideias interessantes apresentadas pelo autor na entrevista:

 O primeiro instrumento musical conhecido
De acordo com Ball, a música é intrínseca a todas as sociedades humanas. O primeiro instrumento musical conhecido, fabricado a partir de osso de pássaro, data da última Idade do Gelo e foi encontrado na Alemanha.

As funções da música nas sociedades humanas
Existem várias hipóteses plausíveis para as (várias) funções que a música terá desempenhado ao longo da história nas várias sociedades: por exemplo, a música pode ter sido (ou ser ainda?) utilizada como instrumento de atracção sexual (hipótese defendida por exemplo por Charles Darwin) ou para fomentar a coesão de grupo/social.

Poderiam as sociedades/culturas sobreviver sem música?
Quando questionado sobre o que o que mudaria numa sociedade/cultura se a música fosse removida, Ball defende que não a questão é inútil, pois não se conhece nenhuma sociedade onde a música não tenha existido. Para além disso, independentemente de ter origens genéticas ou culturais, a realidade é que a música está tão profundamente inscrita/impressa nos nossos cérebros que eles estão intrinsecamente formatados para organizar o som de uma forma que conduz à produção musical. Ball conclui por isso que "não podemos eliminar a música das nossas culturas sem alterar os nossos cérebros"...

 A magia da música
Ball admite que a música tem propriedades que escapam à compreensão científica, e que lhe conferem, ainda hoje, um carácter mágico: por exemplo, a capacidade que a música (mesmo instrumental) tem de "falar connosco", de nos afectar, sem que o consigamos evitar, ou resistir, despertando emoções (alegria, tristeza, raiva, euforia, melancolia, etc.) e provocando reacções físicas (como lágrimas ou arrepios). Mesmo aquilo que consideramos 'má' música / música de que não gostamos (o exemplo mencionado na entrevista foi Lady in Red de Chris de Burgh, que arrepiava e levava às lágrimas o comentador).

Neste âmbito, e citando o escritor russo Tolstoi, Ball resume a nossa complexa ligação à música afirmando que ela constitui "um atalho para as nossas emoções".

Philip Ball dá amanhã uma palestra sobre esta temática em Londres, na "Royal Institution of Great Britain". Mais detalhes sobre o evento aqui.

12 fevereiro 2010

Rage Against the Machine: concerto gratuito em Finsbury Park, Londres

Este post inclui o vídeo de "Pretty Vacant", The Sex Pistols, ao vivo em Finsbury Park 1996.

Este post vem na sequência de dois outros, publicados em 21 e 22 de Dezembro, a propósito de como, numa acção concertada desenvolvida na rede social Facebook, lançada por Jon Morter e a namorada, 500,000 britânicos levaram a pouco natalícia "Killing in the name" dos Rage Against de Machine ao topo do Top britânico de Natal, destronando a potencial vencedora que, pelo 2º ano consecutivo, era oriunda do concurso televisivo The X Factor (algo parecido ao nosso intragável Ídolos).

Na sequência da vitória, e como agradecimento pelo gesto dos britânicos, os Rage Against the Machine prometeram realizar um concerto gratuito em Londres, que foi agora anunciado:

"A historic grassroots rebellion made our song Killing in the Name the number one [UK] Christmas single of 2009,". "The people of the UK toppled the X Factor giant, raised a great deal of money for homeless charities, and shocked the world. As a thank you to our UK fans and freedom fighters we promised to play a free show. Well ... here we come ... The celebration/party/revolution is ON!!"  
(Tom Morello, RATM)

O evento, com o sugestivo nome de "The Rage Factor", está agendado para domingo 6 de Junho em Finsbury Park, no norte de Londres, e promete ser monumental, contando com vários convidados ainda não divulgados. Na página web do evento há detalhes sobre o modo como os interessados se podem registar para tentar conseguir bilhetes (que serão gratuitos).

Sobre Finsbury Park:
Curiosamente, o parque foi criado em meados do século XIX após uma acção concertada da classe trabalhadora londrina, que reclamou a criação de um espaço verde público para onde as pessoas pudessem fugir, ao fim-de-semana,  da poluição e más condições de higiene da capital.

No início do século XX o parque tornou-se palco de manifestações políticas e, mais recentemente, de eventos musicais.
Os Sex Pistols actuaram em Finsbury Park em 1996, aquando da sua reunião, e no âmbito da Filthy Lucre Tour. Aqui fica o vídeo  "Pretty Vacant".

11 fevereiro 2010

Citações: Sobre a recente alteração do logotipo da MTV


"In a move that is easily 10 years overdue, MTV has tossed aside the “Music Television” from its logo. They really ought to dispose of the ‘M’ as well, because there is nothing remotely music related going on at the onetime center of the universe for music and television."

(Jeffrey Hyatt, BeatCrave)

05 fevereiro 2010

Arctic Monkeys em Portugal: Reviews


Na impossibilidade de escrever neste momento um texto que faça jus à actuação da banda de Sheffield em Lisboa, limito-me a deixar a indicação de duas reviews (do concerto do Porto, no Público, clicar aqui, e de Lisboa, na Blitz (excelente texto de Lia Pereira, aqui), um vídeo amador de "Crying Lightning", e o link para a setlist do concerto.

Limitar-me-ei e emitir a minha modesta opinião sobre os Mystery Jets, que a crítica tratou com extrema benevolência..."dead common britpop". Fraquíssimo. Em Portugal nunca teriam saído do quarto, ou da garagem, o que só mostra a vantagem inicial inequívoca de se ser anglo-saxónico e de se fazer música oca (logo, completamente inofensiva!)...


03 fevereiro 2010

Arctic Monkeys hoje em Lisboa: lineup?

 

Os Arctic Monkeys actuam hoje em Lisboa, no âmbito da tournée do 3º álbum de originais, Humbug (2009).
A primeira parte estará a cargo dos britânicos Mystery Jets.

Deverá ser um espéctáculo por isso centrado no último trabalho, sem esquecer contudo alguns dos temas incontornáveis de trabalhos anteriores, como "The View from the Afternoon", "I Bet you Look Good"... ou "Brianstorm".

A avaliar pela generalidade dos concertos da tournée, não faltarão também "Red Right Hand" (cover de Nick Cave & The Bad Seeds), "Catapult" (B-Side do single "Cornerstone" e, já no encore e antes de 505 (que deverá fechar o concerto), "Only You Know" (cover; original do cantor norte-americano Dion DiMucci (disponível para download em  http://coldsplinters.com/wp-content/upl ... u-know.mp3

Para ver o lineup do concerto de ontem no Porto clicar aqui.

E ficam:  "Brianstorm" (uma das minhas favoritas) e o final provável do concerto de mais logo ("Fluorescent Adolescent" e "Only You Know").

The Runaways...a contínua popularidade dos biopics

Este post inclui o trailer do filme The Runaways (2009) e o vídeo de "Cherry Bomb" das Runaways (ao vivo no Japão, 1977).

 

A moda dos biopics continua, talvez porque, como Danny Leigh afirmou há poucos dias no blog de cinema do The Guardian,  há um público fidelizado, que gosta dos músicos/das músicas, o que em tempos de crise oferece alguma confiança inicial relativamente ao potencial sucesso do filme em questão.

É claro que a qualidade e mesmo fidelidade dos biopics relativamente ao objecto (ou melhor, ao sujeito) tratado é muito discutível, e deixa em alguns casos muito a desejar.

De qualquer forma aqui fica a notícia de um novo filme do género, The Runaways, sobre a banda feminina de rock/ glam rock da década de 1970 (1975-1979) que incluía Cherie Currie e Joan Jett.

O filme, realizado por Fiora Sigismondi, conta com a participação das actrizes Kristen Stewart (Joan Jett) e Dakota Fanning (Cherie) e foi apresentado a semana passada no festival americano de cinema independente Sundance (edição de 2010).

Ficam um trailer do filme e o vídeo de uma das músicas mais conhecidas da banda, "Cherry Bomb" (ao vivo no Japão em 1977).



01 fevereiro 2010

Just Kids: O novo livro de Patti Smith

Este post inclui o vídeo de "Horses" de Patti Smith (ao vivo).


Patti Smith, talvez a principal protagonista feminina do início da cena punk rock nova-iorquina e do CBGB (ver posts anteriores), acaba de lançar um livro intitulado Just Kids: From Brooklyn to the Chelsea Hotel, a Life of Art and Friendship (a edição britânica é hoje colocada à venda).

O livro, que é em grande medida um tributo a um dos seus maiores amigos, o fotógrafo Robert Mapplethorpe (falecido em 1989), autor da imagem da capa do seu primeiro álbum, Horses, descreve a chegada de Patti a Nova Iorque e o encontro imediato com Robert; os primeiros anos da vida e da carreira da cantora/compositora/poeta/ fotógrafa/artista plástica e a sua relação - de grande intimidade e identificação intelectual e espiritual - com Mapplethorpe.

 
Foto de Robert Mapplethorpe: Capa do LP Horses (1975)


Essa identificação motivou também colaborações artísticas como a exposição conjunta realizada em 1978 na Robert Miller Gallery, na qual figuravam as fotos que Mapplethorpe fizera de Smith, e os desenhos que Smith fizera de Mapplethorpe.

Aqui ficam alguns excertos do livro que revelam um registo simples e directo, intimista, fluido e com um inegável sentido de humor.
"By the end of my first week I was very hungry and still had nowhere to go. I took to sleeping in the store. I would hide in the bathroom while the others left, and after the nightwatchman locked up I would sleep on my coat. In the morning it would appear I had gotten to work early. I hadn't a dime and rummaged through employees' pockets for change to buy peanut butter crackers in the vending machine. Demoralised by hunger, I was shocked when there was no envelope for me on payday. I had not understood that the first week's pay was withheld, and I went back to the cloakroom in tears.
When I returned to my counter, I noticed a guy lurking around, watching me. He had a beard and was wearing a pinstripe shirt . The supervisor introduced us. He was a science-fiction writer and he wanted to take me out to dinner. Even though I was 20, my mother's warning not to go anywhere with a stranger reverberated in my consciousness. But the prospect of dinner weakened me, and I accepted.We walked down to a restaurant at the base of the Empire State Building. I had never eaten at a nice place in New York City.But even though I was starving, I could hardly enjoy it. I felt uncomfortable and had no idea how to handle the situation. It seemed like he was spending a lot of money on me and I got to worrying what he would expect in return.
After the meal we walked all the way downtown. He suggested we go up to his apartment for a drink. This was it, I thought, the pivotal moment my mother had warned me about. I was looking around desperately when I saw a young man approaching. It was as if a small portal of future opened, and out stepped the boy from Brooklyn who had chosen the Persian necklace, like an answer to a teenage prayer. I immediately recognised his slightly bowlegged gait and his tousled curls. He was dressed in dungarees and a sheepskin vest. Around his neck hung strands of beaded necklaces, a hippie shepherd boy. I ran up to him and grabbed his arm.
"Hello, do you remember me?"
"Of course," he smiled.
"I need help." I blurted, "Will you pretend you're my boyfriend?"
"Sure," he said, as if he wasn't surprised by my sudden appearance.
I dragged him over to the science-fiction guy. "This is my boyfriend," I said breathlessly. "He's been looking for me. He's really mad. He wants me to come home now." The guy looked at us both quizzically.
"Run," I cried, and the boy grabbed my hand and we took off, through the park across to the other side.
Out of breath, we collapsed on someone's stoop. "Thank you, you saved my life," I said. He accepted this news with a bemused expression.
"I never told you my name, it's Patti."
"My name is Bob."
"Bob," I said, really looking at him for the first time. "Somehow you don't seem like a Bob to me. Is it okay if I call you Robert?"
(...)
In February Robert took me to the Factory to see rushes of Trash. It was the first time we had been invited, and Robert was filled with anticipation. I was not moved by the movie; perhaps it wasn't French enough for me. Robert circulated easily in the Warhol circle, though taken aback by the clinical atmosphere of the new Factory, and disappointed that Andy himself did not make an appearance.
As we were leaving in the elevator, Fred Hughes, who managed the Factory, addressed me in a condescending voice. "Ohhh, your hair is very Joan Baez. Are you a folksinger?" I don't know why, as I admired her, but it bugged me.
Robert took my hand. "Just ignore him," he said.
I found myself in a dark humor. One of those nights when the mind starts looping bothersome things, I got to thinking about what Fred Hughes had said. Screw him, I thought, annoyed at being dismissed. I looked at myself in the mirror over the sink. I realised that I hadn't cut my hair any different since I was a teenager. I sat on the floor and spread out the few rock magazines I had. I usually bought them to get any new pictures of Bob Dylan, but it wasn't Bob I was looking for. I cut out all the pictures I could find of Keith Richards. I studied them for a while and took up the scissors, machete-ing my way out of the folk era. I washed my hair in the hallway bathroom and shook it dry. It was a liberating experience.
When Robert came home, he was surprised but pleased. "What possessed you?" he asked. I just shrugged. But when we went to Max's, my haircut caused quite a stir. I couldn't believe all the fuss over it. Though I was still the same person, my social status suddenly elevated. My Keith Richards haircut was a real discourse magnet. I thought of the girls I knew back in high school. They dreamed of being singers but wound up hairdressers. I desired neither vocation, but in weeks to come I would be cutting a lot of people's hair, and singing at La MaMa. Someone at Max's asked me if I was androgynous. I asked what that meant. "You know, like Mick Jagger." I figured that must be cool. I thought the word meant both beautiful and ugly at the same time. Whatever it meant, with just a haircut, I miraculously turned androgynous overnight." 
© Patti Smith, 2010
in The Observer 31/01/2010, aqui.