Não podemos deixar de fazer referência ao número 42 da revista Outsider, que constituiu igualmente a última edição desta fanzine nacional, e refletirmos um pouco sobre o papel relevante que esta publicação desempenhou.
É com muita pena que assistimos ao fim deste projeto editorial DIY que ao longo três anos e meio - 42 meses - desempenhou um importantíssimo papel ao nível da divulgação musical/cultural do meio dito alternativo ou underground nacional, especialmente (mas não só) no âmbito do punk rock. Ao longo de 42 edições, e com um cariz mensal, a Outsider deu a conhecer projetos musicais emergentes, partilhou opiniões críticas sobre concertos ou novos trabalhos de bandas internacionais e nacionais, divulgou eventos musicais, transportou-nos até ao quotidiano das salas de ensaios com a interessante rúbrica "Uma Visita a...", e permitiu-nos conhecer mais de perto os protagonistas do meio musical punk rock nacional, através de entrevistas muito interessantes e por vezes com um formato pouco convencional. Para além do conteúdo musical, a revista incluía também rúbricas de opinião, que versavam sobre a atualidade política, social e cultural, sugestões de leitura/cinema, trabalhos de cariz gráfico artístico, para não falar no excelente e criativo artwork das suas capas, da autoria da artista/designer Sara Franco.
(Capa OTS nº 16 - Outubro 2009)
Para além disso, a equipa editorial da Outsider foi responsável pela organização de 4 festivais musicais, que reuniram bandas menos ou mais conhecidas, menos ou mais experientes e 'instituídas'/consolidadas no panorama nacional, tais como PHT, R12, FPM, Desobediência Geral, Un-Predictable, SickSin, Asfixia, Acromaníacos, Simbiose, Boca Doce, Re-Censurados, Barafunda Total, Kamones, Mr Miyagi, Albert Fish, Dalai Lume, Punk Sinatra, Gazua, Crise Total, entre outros. Nestes eventos, que contaram ainda com a participação do DJ Billy, reinou sempre uma atmosfera muito animada, acolhedora e totalmente DIY e houve ainda bancas de artesanato, de merchandising das bandas e da própria zine.
(Cartaz do Festival Outsider 1)
(Gazua - Festival Outsider 1)
(Boca Doce - Festival Outsider 2)
(Kamones - Festival Outsider 3)
(Punk Sinatra - Festival Outsider 4)
Se a revista se caracterizou sempre pelo rigor, pela seriedade e pela qualidade gráfica e informativa, este último número reúne todas estas características e eleva-as a um nível de excelência, o que o torna um exemplar imperdível e colecionável. Trata-se de uma edição consideravelmente mais extensa do que o habitual, com cerca de 70 páginas e um manancial de conteúdos informativos extremamente interessantes e que primam pelo estilo informal que marcou as 42 edições desta revista.
Destacamos, a título meramente exemplificativo, as entrevistas aos Atentado, aos SickSin e aos Alien Squad, as reportagens dos concertos dos Corrosão Caótica+Luvdaxit+Osso Duro de Roer e dos Yellowcard (entre outros), as reviews de 'Based on a True Story' (Sick of It All) 'Bad as Me' (Tom Waits), 'Moscow Penny Ante' (Dead to Me), 'Teenage Rampage' (Dangerous), 'A Flash Flood of Colour' (Enter Shikari) (entre outras), as Visitas a Dalai Lume e Tara Perdida, e as mini e pouco convencionais entrevistas a João Corrosão (Gazua), Manelito (Re-Censurados, Orlando Cohen (Porta Voz), Rafael (An X Tasy) e Rattus (Albert Fish).
Esta última edição inclui ainda sugestões de cinema (por exemplo, dos filmes 'Control' e '24 Hour Party People', entre outros), e vários artigos de opinião que versam sobre temas tão diferentes como o pop punk, a herpetologia, curiosidades do mundo da música, a voz como instrumento, o Plano Nacional de Barragens, as vacinas, a cidadania, os cães/animais de estimação ou a música de protesto.
Repetindo o ciclo da vida, os projetos nascem, crescem, amadurecem e, mais cedo ou mais tarde, acabam por terminar. Contudo, o fim da revista Outsider é uma perda significativa e a lamentar, em termos culturais em geral, e em particular no que concerne à divulgação, à promoção e à dinamização de projetos e de eventos musicais nacionais, especialmente de cariz alternativo e underground. Fica um vazio que esperamos venha a ser preenchido por outros intervenientes/projetos mas, entretanto, ficamos todos a perder: os leitores, as bandas, os promotores dos eventos que a Outsider promovia/divulgava.
Resta-nos deixar aqui uma palavra de apreço e de reconhecimento pelo trabalho, empenho e esforço que a equipa Outsider desenvolveu ao longo destes três anos e meio em prol da cultura DIY e da música alternativa nacional. Obrigada Diana Rosa, João Ribas, Bruno Break, Bruno Mota, Catarina Ramalheira, Frederico Relha, Maria Frade, Billy, Hugo Rebelo, Paulo Medeiros, Luís Silvério, Sara Franco e Ana Pereira.
É possível adquirir este e outros números da revista Outsider através do endereço outsider.email@gmail.com , do site da revista www.outsiderzine.com.pt e da página do facebook.
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