Não é preciso ser entendido em matéria de música ou conhecer de perto o meio musical para perceber o que significa para uma banda atingir 25 anos – um quarto de século – de existência. Uma banda é uma estrutura coletiva relativamente frágil e permanentemente instável, que tem de ser construída, defendida e consolidada a cada dia. Não é como uma família (mesmo em stress!), onde os laços de sangue funcionam como uma potente cola de contato que dirime diferenças e conflitos de geração ou de personalidade. Não é como um grupo de amigos, que se junta à mesa ou em festas e concertos para celebrar o que a vida tem de melhor e que tantas vezes se esfuma ao primeiro revés.
Uma banda é um conjunto de indivíduos unidos pelo gosto de fazer música que, como as famílias e os grupos de amigos, têm personalidades distintas e por vezes conflituantes. Um conjunto de pessoas com vidas paralelas, dinâmicas, complicadas e por vezes difíceis de conjugar. A estes aspetos alia-se ainda a evolução, por vezes em direções diferentes, dos gostos, das tendências e dos percursos musicais, ou o desgaste inevitável que as longas horas de ensaios, de estrada e de concertos operam sobre as relações pessoais. Por fim, não podemos esquecer o cansaço que um projeto sem prazo de validade pode causar e que tende a aumentar com a passagem dos anos, com os altos e baixos de uma carreira sem garantias.
Uma banda é um conjunto de indivíduos unidos pelo gosto de fazer música que, como as famílias e os grupos de amigos, têm personalidades distintas e por vezes conflituantes. Um conjunto de pessoas com vidas paralelas, dinâmicas, complicadas e por vezes difíceis de conjugar. A estes aspetos alia-se ainda a evolução, por vezes em direções diferentes, dos gostos, das tendências e dos percursos musicais, ou o desgaste inevitável que as longas horas de ensaios, de estrada e de concertos operam sobre as relações pessoais. Por fim, não podemos esquecer o cansaço que um projeto sem prazo de validade pode causar e que tende a aumentar com a passagem dos anos, com os altos e baixos de uma carreira sem garantias.
Foi a partir desta breve reflexão que tentei apreender ou apreciar devidamente o que significam os 25 de carreira dos Peste & Sida, assinalados com a edição de um livro de cariz biográfico, da autoria de Renato Conteiro e Augusto Figueira, com um CD de tributo em que participaram quase duas dezenas de bandas nacionais, e com dois concertos de apresentação do livro e do CD. O concerto de Lisboa teve lugar na passada sexta-feira, 13 de Abril, em Lisboa, e o do Porto está agendado para o próximo sábado, 21 de Abril, no Hard Club.
Pouco passava das 23 horas quando entrei na República da Música, excelente recinto de concertos, localizado em Alvalade, zona central da capital investida de uma forte carga histórico-cultural e simbólica, por ter constituído, na segunda metade dos anos 80, um dos epicentros da chamada terceira vaga do movimento punk em terras lusas. Os Peste já tinham começado a sua atuação, a sala ampla encontrava-se praticamente cheia e o calor era já notório. Com dificuldade avancei por entre um mar de gente, até chegar a um local próximo do palco, de onde pudesse ver o concerto. À medida que avançava ia notando a composição do público, onde se misturavam muitas caras conhecidas do meio musical com familiares, amigos e fãs da banda, maioritariamente nas faixas etárias dos 30 e dos 40 anos, mas com uma presença assinalável de malta mais jovem, a provar a popularidade que os Peste & Sida têm conseguido granjear e manter ao longo de mais de duas décadas de atividade.
Chegada ao local escolhido para apreciar o espetáculo, já se ouvia o segundo tema da noite 'Está na tua mão' e o entusiasmo do público era manifesto. Estava visto que o pessoal estava ali de corpo e alma, empenhado em dar o seu melhor e em desempenhar um papel proativo nesta grande festa do (punk) rock nacional. O entusiasmo deste público rendido desde o primeiro minuto era partilhado (e amplificado) pela postura da banda, e o concerto foi dominado por uma forte interação e um clima de grande cumplicidade e de perfeita sintonia entre os músicos (com especial destaque para o vocalista/baixista e frontman, João San Payo) e a assistência.
Foi de resto este o clima que reinou e que se intensificou ao longo da hora e meia seguinte, à medida que desfilavam temas dos sete álbuns de originais que a banda editou entre 1987 e 2011. Apesar de os clássicos incontornáveis, como ‘Carraspana’, ‘Furo na Cabeça’, ‘Sol da Caparica’, ‘Alerta Geral’, ‘Paulinha’ ou ‘Gingão’ (para mencionar apenas alguns) terem levado a plateia ao rubro, desencadeando algumas eclosões de mosh entusiástico e de crowd surf, os temas dos trabalhos mais recentes – como ‘Cai no Real’, ‘Já Foste’, ‘Estrela da Têvê’ ou ‘(Tu És) Só Mais Um’ – foram também bem recebidos e muito participados, com muita gente a cantar os refrões e vários conhecedores a reproduzir mesmo as letras da primeira à última palavra.
Uma das particularidades do evento, e que lhe conferiu sem dúvida um cariz ainda mais especial, foram as intervenções dos vários convidados especiais, e em particular de antigos membros da banda. Orlando Cohen participou no tema ‘Família em Stress’ e Nuno Rafael em ‘Orgia Paroquial’; a subida ao palco de João Pedro Almendra causou grande efusão no público e levou a multidão ao rubro com a sua interpretação de ‘Paulinha’, um dos temas mais populares dos Peste. Outras participações especiais incluíram Jonhie (Simbiose), no tema ‘Alerta Geral’, e Ian Mucznik (Rat Swinger) em ‘Revolução Rock’.
O concerto terminou, já no encore, de forma catártica e num clima bastante acalorado e festivo, com um palco apinhado e com os Peste acompanhados não só dos convidados já mencionados mas também de João Ribas, Ruka e Jaime dos Tara Perdida, chamados ao palco por João San Payo para participarem no tema ‘Chuta Cavalo’, que a banda interpretou no CD de tributo incluído no livro comemorativo dos 25 anos dos Peste & Sida (ver vídeo do tema num post anterior).
O concerto terminou, já no encore, de forma catártica e num clima bastante acalorado e festivo, com um palco apinhado e com os Peste acompanhados não só dos convidados já mencionados mas também de João Ribas, Ruka e Jaime dos Tara Perdida, chamados ao palco por João San Payo para participarem no tema ‘Chuta Cavalo’, que a banda interpretou no CD de tributo incluído no livro comemorativo dos 25 anos dos Peste & Sida (ver vídeo do tema num post anterior).
(João San Payo, João Ribas e João Pedro Almendra)
Terminado o concerto, pouco antes da 1h da manhã, a festa continuou, com muita animação e convívio, especialmente na zona do bar e junto à banca de merchandising dos Peste, onde o livro comemorativo Peste & Sida: 25 anos de Veneno e o CD de tributo (incluídos na entrada) podiam ser levantados e autografados pelos membros da banda, o que contribuiu para prolongar (e individualizar) a proximidade e a estreita interação estabelecida entre os Peste e o público e que pautou este concerto que perdurará decerto na memória. Numa ação espontânea, e que rapidamente se disseminou, muitos foram aqueles que decidiram imortalizar a noite ‘personalizando’ os seus livros com autógrafos dos amigos, conhecidos e ainda de outros músicos presentes no evento e referidos no livro.
A noitada de música continuou pela noite fora, até ao encerramento do espaço, por volta das 4 da manhã, assegurada pelos DJs Billy e Dub Dub. Pela mão do DJ Billy continuámos a percorrer três décadas de punk rock nacional e internacional, a confirmar (para quem tiver dúvidas) que o punk, tal como as famílias, os amigos ou as bandas, é uma entidade dinâmica, pautada por diversas influências, tendências e mutações, mas que continua bem vivo e de boa saúde, renascendo e renovando-se a cada novo trabalho, e a cada concerto, quer de bandas consagradas e/ou de longa carreira como os Peste & Sida, quer também de bandas mais jovens e menos conhecidas que compõem o meio musical dito underground. Bandas que, não obstante as múltiplas dificuldades que todos enfrentamos nesta era negra do capitalismo darwinista, continuam a utilizar a música como uma forma de comunicação coletiva de valores humanistas, democráticos e de crítica social e política. Os 25 Anos dos Peste & Sida comprovam que quer lhe chamemos punk, quer rock de combate (uma expressão muito utilizada no livro comemorativo), este rock rápido, rebelde, crítico, desafiante e interventivo continua a fazer sentido e a ser cultural e socialmente pertinente e necessário.
Tal como se pode ler numa das citações de abertura do livro Peste & Sida 25 Anos de Veneno, “punk não é só a música. Punk é um estilo de vida”. É essa forma de estar na vida que está patente na obra que os Peste edificaram ao longo do último quarto de século e nos trabalhos mais recentes da banda, Cai no Real (2007) e Não Há Crise (2011), e que mais uma vez se materializou neste concerto especialíssimo que promete repetir-se no Porto, já no próximo dia 21 de Abril. Para citar os próprios Peste (no tema ‘Chegámos ao Fim’), “segurem-se!”
Fica o alinhamento do concerto e um vídeo do medley final.
Uma extensa reportagem fotográfica do concerto pelo fotográfo Vítor 'Schwantz' Barros encontra-se disponível aqui.
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Fica o alinhamento do concerto e um vídeo do medley final.
Uma extensa reportagem fotográfica do concerto pelo fotográfo Vítor 'Schwantz' Barros encontra-se disponível aqui.
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Setlist/alinhamento:
História de Loucos
Está na Tua Mão
Cai no Real
Já Foste
Carraspana
Bule Bule
Família em Stress (c/ Orlando Cohen)
Furo na Cabeça
Alerta Geral (c/ Johnie)
Revolução Rock (c/ Ian Mucznik)
Sol da Caparica
Cidade Veneno
Estrela da Têvê
Orgia Paroquial (c/ Nuno Rafael)
Canção de Lisboa
Funky Riot
A História é Velha
Paulinha (c/ João Pedro Almendra)
Gingão/Reggaesida
Chegou a tua Hora
Encore:
(Tu És) Só Mais Um
Alcides Pinto
Peste Até ao Fim
Medley (Veneno+Portem-se Bem+Chuta Cavalo)
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ResponderEliminarMais uma vez e com nos tem habituado este blog, a review está excelente, abrangendo os imensos momentos e detalhes do que se passou nesta magnífica noite!
Sem dúvida que 26 anos ´não é para todos` (25 desde a edição do primeiro álbum "Veneno") e a comemoração fez-se em grande estilo!
Parabéns ao Peste, a todos os envolvidos e a quem conseguiu presenciar este grande momento (inclusive a autora deste blog).
A festa foi nossa...
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