Nos tempos hipermediatizados e hipercapitalizados que vivemos, a noção da qualidade (ou da espectacularidade) tende a ser cada vez mais equacionada com as grandes produções, ou no caso dos eventos musicais, dos mega-concertos ou festivais...
Nessa lógica hipercomercial, o título deste post seria visto como um erro grosseiro, uma afirmação exagerada e disparatada, dado referir-se a um pequeno evento, numa cidade do interior (cada vez mais esquecido...), e a uma banda que não passa nas rádios, nem figura nas nossas revistas musicais (cada vez mais desinteressantes, diga-se de passagem)...
Nessa lógica hipercomercial, o título deste post seria visto como um erro grosseiro, uma afirmação exagerada e disparatada, dado referir-se a um pequeno evento, numa cidade do interior (cada vez mais esquecido...), e a uma banda que não passa nas rádios, nem figura nas nossas revistas musicais (cada vez mais desinteressantes, diga-se de passagem)...
Mas como seres pensantes e críticos que devemos ser, temos de ignorar esta lógica mercantilista dominante, e estarmos bem atentos ao muito que se vai fazendo de interessante e inovador fora do circuito comercial, nos pequenos espaços, nas margens ou periferias...é aí que existe um mundo maravilhoso que vale a pena descobrir. Na verdade, a história musical está repleta de exemplos paradigmáticos, basta pensarmos na génese do blues, do punk, etc, etc...
É no contexto desta lógica alternativa que reafirmo: o concerto dos Balão Dirigível, jovem banda bejense, que teve lugar no passado sábado, 8 de Janeiro, na Galeria do Desassossego em Beja, foi um acontecimento verdadeiramente memorável e comprovou, mais uma vez, que as coisas mais interessantes, refrescantes, e inovadoras não só acontecem fora dos espaços consagrados e do circuito 'oficial', mas são também protagonizadas por bandas jovens, 'de garagem', que na verdade nada têm a provar nem a perder, e que por isso não têm medo de arriscar e vão onde as suas capacidades, imaginação e vontade os levam - o céu é o limite.
(Foto da autoria de Aresta)
E foi isso mesmo que este jovem colectivo fez em Beja: com paixão, energia, espontaneidade, irreverência mas também muita simplicidade, ofereceu uma prestação vertiginosa, que deleitou e levou ao rubro a pequena multidão que encheu o espaço limitado da sala.
Sem qualquer trabalho ainda editado, os Balão Dirigível mostraram bem o seu talento e potencialidades nos cerca de 12 temas apresentados. Trata-se em geral de temas densos mas refrescantes, consistentes mas simultaneamente muito multifacetados, e que surpreendem pelas sempre inesperadas variações...são, por isso, temas para ouvir do princípio ao fim, com atenção, abertura de espírito e com a flexibilidade suficiente para apreciar os seus twists and turns...
(Foto da autoria de Aresta)
Produto dos tempos que vivemos, a música dos Balão Dirigível revela as muitas e variadas influências de que são herdeiros (e que as novas tecnologias decerto potenciam), assim como ecos de diversos projectos e sub-géneros do rock das últimas décadas, do progressivo ao psicadélico, passando sem dúvida pelo alternativo e o experimental...
...enfim, as categorizações valem o que valem, e a música, como tudo o resto na vida, ou se sente e se gosta ou não... na Galeria do Desassossego no passado sábado, e depois de 12 temas a abrir, acompanhados de uma adesão incondicional e da participação entusiástica do público, com muito mosh e até algum crowd surf improvisado, a popularidade e receptividade dos Balão Dirigível e da sua música ficaram amplamente confirmadas.
De entre os temas apresentados destacamos, por pura preferência pessoal, "Imigrante do Amor", (reminiscente de Arctic Monkeys no seu mais denso e melhor), "Brincar com o Fogo", "Velha", "Odisseia no Guadiana", "Danceteria" e "Latir". De referir também a cover de "Reptilia" dos The Strokes, apresentada pela banda como "uma experiência", melhor conseguida a nível instrumental do que em termos de vocalização.
Em suma, uma excelente e muito promissora prestação destes moços de Beja, a que vale a pena estarmos atentos, esperando que o projecto cresça e se fortaleça, e que muito em breve saia em formato físico o amplamente justificado primeiro trabalho.
Fica a setlist, assim como dois vídeos já disponibilizados no YouTube, dos temas "Velha" e "Vicking" (salvo erro).
Setlist
Imigrante do Amor
Penis
Brincar com Fogo
Vicking
Nanda
Velha
Reptil (cover de "Reptilia" dos The Strokes)
Odisseia no Guadiana
Canção do Bosque
Século
100 Olhos Vejo Azul
Danceteria
Latir
+Encore
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ResponderEliminarO teu texto está muito bom, incentiva qualquer um a ir a um próximo concerto deles…
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