08 maio 2012

Entrevista a...Paulinho (GAZUA)



O lançamento do mais recente trabalho dos Gazua, Transgressão, está agendado já para a próxima quinta-feira 10 de Maio e constitui sem dúvida um dos acontecimentos musicais do ano. Este trabalho vem de resto confirmar aquela que é uma característica surpreendente desta banda, e talvez ímpar no panorama nacional, nomeadamente a sua enorme proficuidade: trata-se do quarto álbum de originais produzido no espaço de pouco mais de quatro anos.

A apresentação deste novo trabalho dos Gazua constituiu o pretexto ideal para conversarmos com Paulinho, baixista da banda lisboeta, com o intuito não só de sabermos um pouco mais sobre os Gazua e sobre este Transgressão mas também, e principalmente, de ficarmos a conhecer melhor este músico cuja carreira musical se iniciou na década de 1980.


Olá, Paulinho! Uma vez que alguns leitores poderão não te conhecer, podes fazer uma breve apresentação?

Olá a todos, sou o Paulo Seixas, mais conhecido por Paulinho, tenho 39 anos sou da zona de Lisboa, (Alvalade, Portela, Alfornelos), neste momento vivo em Alfornelos e toco em bandas desde 1987. Sou desde 2006 o baixista de Gazua e desde 2001 baixista de Kamones.


(Paulinho com Kamones em Beja (2011)


Ou seja, apesar de integrares os Gazua, desde 2006, a tua carreira musical abrange as últimas três décadas e projetos musicais bastante diferentes…

Sim é verdade, desde a minha 1ª banda em 1987 (Os Massacrados do Pós Guerra - MPG), uma banda com toques de punk rock; depois entrei para JARDIM DO ENFORCADO (1988-1990) que tinha uma vertente mais gótica, onde se encontravam também o industrial o experimental, isto tudo numa vertente muito teatral. Em 1992 juntei-me com uns amigos e fundámos os M.A.D. – Mau Aspecto Demais, onde toquei até 2008. Os M.A.D. são uma banda assumidamente punk rock, desde as letras, a música até à atitude. Pelo meio, em 2000 começo a tocar baixo numa banda com o nome de SPITZBUBEN, numa onda Crust com muitas influências da Suécia e da Escandinávia. No ano seguinte entro para KAMONES (2001), a minha segunda banda a tocar baixo. Os KAMONES são uma banda de versões de Ramones que continua a tocar até os dias de hoje. Finalmente entro para os GAZUA em 2006, já numa vertente mais aproximada do rock, também como baixista, onde permaneço até hoje e onde vou lançar o 4º álbum de originais na próxima quinta dia 10 de Maio no Musicbox. 


O que é te fez ingressar no mundo da música? Foi uma decisão pensada ou algo casual, que acabou por acontecer?

Penso que não foi uma decisão pensada mas algo que aconteceu naturalmente, devido ao meu interesse crescente pela música, o bichinho que está cá dentro no sangue e como tinha uma guitarra clássica em casa foi fácil começar a tocar. Entretanto também fui para uma escola de música e a partir daí comecei a tocar guitarra eléctrica e só bastante mais tarde é que comecei a tocar baixo eléctrico. Foi uma inclinação natural, acho eu.

Dado o teu conhecimento ‘de dentro’ do meio punk/underground português das últimas três décadas, qual é a tua avaliação dessa história e da forma como o meio se tem alterado/evoluído?

Penso que há sempre mudanças dentro de qualquer estilo, ou grupo, ou meio musical, até porque as próprias pessoas mudam e há sempre as novas gerações, que já vivem numa época também ela diferente. Acho que acima de tudo o meio punk continua vivo em Portugal, pode ser um meio pequeno, diria até bastante limitado, pois também ninguém pega nas bandas de punk, não há muito por onde evoluir e as bandas são estranguladas nos mesmos circuitos de sempre.



Como é que é ser músico e fazer música em Portugal neste momento?

É muito difícil viver da música numa banda de originais em Portugal, talvez 90% dos músicos não vivam só da sua banda de originais e por isso desdobram-se em vários projectos para fazer algum dinheiro no final do mês, seja a dar aulas, a fazer trabalho de roadie, de técnico de som, a tocar em bandas de versões, etc, etc.

Fala-nos um pouco dos teus gostos musicais e das bandas que te marcaram e que te têm influenciado em termos musicais.

São muitas as bandas de que gosto e de décadas muito diferentes e muitas são grandes referências para mim, por isso vou referir muitas. Os meus gostos musicais vão desde a década de 50, com os blues e o rock&roll, como B.B. King, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, os anos 60 são muito importantes para mim, com Rolling Stones, Velvet Underground, Stooges, Love, Tens Years After, Jimy Hendrix, YardBirds, MC5, Beatles, Doors, Animals, Led Zepplin, Bob Marley, David Bowie e tantos outros que fizeram desta década uma das mais ricas da história da música na minha opinião. A década de 70 também é muito boa e rica e com o aparecimento de grandes referências para mim, tais como: Ramones, Motorhead, AC/DC, New York Dolls, Damned, UK Subs, Dead Boys, Buzzcocks, Misfits, Dead Kennedys, Cure, Patti Smith, Bauhaus, Joy Division, Clash,etc, etc.
A década de 80 é talvez a mais rica de todas, com o gótico e vanguarda, o pop e o futurismo em alta por quase todo o mundo. Também o metal está em alta, a segunda vaga do punk ( bastante mais agressiva) continua muito presente. Enfim destacaria: Cult, Misson, March Violets, Virgin Prunes, Birthday Party, Ausgang, Jad Wio, Scientits, Christian Death, Sex Gang Children, Rose of Avalanche, Stiff Kittens, Inca Babies, Varukers, Discharge, Broken Bones, Chaos UK, Exploited, GBH, etc , etc. A década de 90 tem muito de crust e do bom, como Anti-Cimex, Rattus, Driller Killer, etc, mas é nesta década que surge o fenómeno designado de grunge e aí destacam-se: Nirvana, Pearl Jam, os grandes Alice in Chains, Soundgarden e claro os Faith No More. Vou só referenciar mais umas bandas que gosto, são elas: Iron Maiden, Megadeth, Ministry, Pixies, Siouxsie and the Banshees, Anti Nowhere League, Crise Total, Censurados, Peste e Sida, Xutos, Kú de Judas, Mão Morta, M’as Foice, Ena Pá 2000, Morituri e muitos mais.      

Uma cena insólita que te tenha acontecido na tua carreira musical…

Tantas cenas…concertos acabados pela polícia, desligaram-me a guitarra (o cabo) 5 ou 6 vezes no mesmo concerto, roubaram-me o baixo no dia de um concerto e eu fiquei sem baixo para tocar e por aí em diante.

Um concerto inesquecível em que tenhas participado…

Palco 25 de Abril na Festa do Avante em 2009 com Gazua.




Um concerto inesquecível a que tenhas assistido…

Tantos…Peter Murphy no Pavilhão do Restelo em 87…

Imagino que em mais de vinte anos de carreira também tenhas mudado e evoluído…

Claro que sim, todo o mundo é feito de mudança…e também eu próprio.



Agora em relação aos Gazua… Conta-nos como ingressaste no projeto.

A convite do João dos Gazua, fui experimentar um ensaio e estou lá até agora…

E que balanço fazes da carreira da banda?

É lógico que o balanço é muito positivo em termos de realização pessoal pois em 5 anos produzimos 4 álbuns de originais e isso para mim é o mais importante. Penso que a nossa onda do ‘Do It Yourself’ é também uma das melhores virtudes que podemos tirar desta banda, que já podia ter tido um pouco mais de sorte pelo trabalho intensivo que tem vindo a realizar…mas não depende só de nós! Estamos aí!



Os Gazua contam já com quatro álbuns de originais: Convocação (2008), Música Pirata (2009), Contracultura (2010) e este Transgressão. Tens algum preferido (e se sim, porquê)?

Gosto de todos mas penso que o Música Pirata dos 3 é o melhor! Tem músicas muito fortes, a banda evoluiu bastante e isso notou-se no álbum. Para mim é sem dúvida um grande disco.

4 álbuns de originais em pouco mais de 4 anos: qual é o segredo da extraordinária proficuidade dos Gazua?

Penso que a criatividade, experiência e cultura musical e principalmente o método de trabalho e a maneira como a banda funciona, todos a remar para o mesmo lado.



Quais são para ti as características distintivas dos Gazua no panorama musical nacional?

O trabalho que a banda realiza, bastante intenso e querer sempre abrir novos portões na música, experimentar cenas…novas (se isso ainda é possível já não sei, mas com a nova legislação…). Vamos continuar a explorar…

Pode-se dizer que Gazua é punk?

Penso que não…pode ter influências mas não é punk.

Tens uma ideia de quantos concertos é que os Gazua já deram? Tens algum/alguns preferidos e que queiras mencionar?

Não sei ao certo, por volta de 100, talvez mais, talvez menos. Além do que já referi, tive vários bons concertos, como abrir para Jello Biafra, Peste e Sida, o Faro Alternativo, etc. Claro que com Gazua o lançamento do Música Pirata em 2009 (no Hospital Júlio de Matos) e o lançamento do Contracultura em 2010 (no Cinema S. Jorge) foram duas datas importantes para a minha carreira pessoal.


Como é que funciona a produção/conceção dos vossos trabalhos? Trabalham mais em termos individuais ou em conjunto?

Um pouco das duas, mas realmente fazemos muito trabalho em conjunto, especialmente antes das gravações dos álbuns. Eu e o João fazemos um trabalho bastante intenso e às vezes juntamo-nos vários dias só para trabalhar nas músicas. O João é que faz o trabalho do artwork, as capas, todo o design da banda, os videoclips , etc. Claro que também já tivemos ajuda de muitas pessoas e agradeço a todos os que nos apoiaram…Obrigado!  



E quanto a Transgressão: em que medida em que se aproxima/diferencia dos trabalhos anteriores? O que é que os apreciadores/conhecedores de Gazua podem esperar deste trabalho?

É um disco maduro, penso eu; vai de encontro às nossas influências, às nossas raízes musicais e continua com boas mensagens, dou o exemplo da letra do ‘Ritmo das Palavras’. Penso que é um dos melhores álbuns de Gazua e também demonstra a coesão de ideias que continuam a surgir de forma natural nesta banda.

Imagino que cada trabalho seja uma experiência diferente e com desafios novos e/ou distintos. Que desafios é que este novo trabalho colocou ou como foi a experiência de conceção do trabalho?

É sempre a mesma história, estamos sempre a evoluir e gravar um disco requer muita coisa! Por isso cada álbum é um desafio, no fundo é também isso que nos faz continuar, novos desafios!


(Foto de Francisco Rosário)



Finalmente gostava que levantasses a ponta do véu sobre o concerto de apresentação deste novo trabalho! O que é que os fãs de Gazua podem e devem esperar?

Em primeiro lugar um regresso dos Gazua aos palcos …em Lisboa; depois o lançamento do TRANSGRESSÃO, o 4º álbum de originais da banda. Além disso temos o nosso novo baterista e um convidado especial. As ANARCHICKS vão abrir o concerto e o DJ BILLY vai estar no tumulto da noite. Penso que vai ser bom!

Agradecimentos a todos que nos dão força para continuar!

Resta-nos agradecer também ao Paulinho pela disponibilidade para esta entrevista e desejar-lhe e aos Gazua muito sucesso com este novo trabalho de originais, com data de lançamento já na próxima quinta-feira, 10 de Maio.

Fica o cartaz do evento:


1 comentário:

  1. ***

    Para não variar neste blog, nova entrevista com o nível de interesse bem acima da média!

    A abordagem ao Paulinho é excelente, a dualidade Gazua/experiência pessoal sempre lado a lado, com motivos mais que muitos para se ler na íntegra.

    Parabéns à autora do blog e ao baixista de Gazua pelas cativantes respostas, recheadas de detalhes!


    ***

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