A notícia do encerramento provável do 100 Club, mítica sala de espectáculos situada na Oxford Street (Londres) deu nos últimos dias azo a uma acesa polémica, particularmente nos media britânicos.
O 100 Club é o equivalente britânico do nova-iorquino CBGB. Ambas as salas estão intimamente ligadas ao surgimento do fenómeno punk, de cada um dos lados do Atlântico na segunda metade da década de 1970.
O 100 Club é descrito como o berço do punk britânico. Foi aqui que bandas míticas como os Sex Pistols, Clash e Buzzcocks se estrearam em Londres. Foi aqui que aconteceu o primeiro concerto de Siouxie and the Banshees no Punk Festival em 20 de Setembro de 1976...Foi aqui que tocaram grandes vultos da música como BB King e Jimi Hendrix...
Mas na verdade a história da sala remonta a 1942, altura em que abriu e se notabilizou como clube de jazz...ao longo da sua história, diversos (sub)géneros musicais emergentes, como o punk, o reggae, o indie e o northern sound fizeram-se ouvir nesta que é, de acordo com o periódico londrino The Independent, "the world's longest surviving live music venue". Ver notícia na íntegra aqui.
(Actuação dos Sex Pistols no 100 Club
Apesar da sua contínua popularidade, a sala deverá fechar por altura do Natal, dada a incapacidade do proprietário de pagar as rendas elevadíssimas mensais a que o imóvel está sujeito, a menos que se encontre um patrocinador que ajude a fazer face a estes encargos. (Ver declarações do proprietário ao jornal Evening Standard aqui ).
A notícia despoletou uma grande insatisfação e revolta, havendo já movimentações na internet para impedir que tal aconteça...
John Robb, jornalista musical e vocalista dos Goldblade publicou um artigo na revista NME intitulado "Why the 100 Club Must be Saved", onde afirma:
"Our city centres are becoming sanitised and scrubbed. Those grubby corners where popular culture gets made are disappearing. So what, you may ask. Why should we care? In this modern download age of zippy-fast communication these places have had their time, haven't they? But they are never just buildings. They are steeped in the dust and grime of history."
E termina eloquentemente:
"We don't all want to live in a plastic corporate culture."
Não podíamos concordar mais.
Contudo, há quem não concorde e um artigo de ontem, 27 de Setembro, com o título provocador "Punks, what's your problem? The 100 Club was past its prime" publicado no blog de música do jornal Guardian, vem atacar os "punks" por estarem presos a coisas insignificantes como edifícios, aproveitando para questionar o próprio ideário punk:
"I never thought punk rock was supposed to be about heritage, or monuments, or even bricks and mortar. It's a transcendent spirit, it works in your head, in your bedroom or in a music venue. I thought punk was about ideas, anger, being disconcerting about who and what you respect, about questioning the status quo (especially Status Quo)."
O autor parece estar aqui, lamentavelmente, a confundir a acertada convicção punk da ausência de perspectivas de futuro da sociedade capitalista ("No Future") -- que a conjuntura actual amplamente comprova -- e o desprezo pelo passado e pela memória, sempre tão necessários, neste caso particular do próprio movimento...
Compreensivelmente, o autor do post tem sido alvo de uma enxurrada de comentários bastante críticos...
Em todo o caso, esperemos que a mediatização deste caso e mobilização pública que tem despoletado consigam evitar o fecho desta sala de espectáculos no coração de Londres, a bem do passado, mas principalmente das cenas musicais (especialmente as emergentes) presente e futura...
Ficam dois vídeos de actuações no 100 Club: Siouxsie and the Banshees (1977) e Gallows (2007).